Zemaria Pinto
Já esquecera o incidente quando, há pouco, lendo o
tal jornal onde trabalha como advogado e assina colunas o futuro acadêmico,
deparo-me novamente com a aberração: o “patrono Cruz e Silva”, citado em
matéria de mais de meia página, com o sorridente bacharel e futuro acadêmico. Jornalistas
não precisam conhecer literatura, claro. Mas acadêmicos não podem ignorar seus
símbolos. Quem deu a informação errada? O próprio “novo nome da academia”? O
presidente, bacharel e jornalista? Os eleitores bacharéis? Tenho certeza que o
vice-presidente, também bacharel e jornalista, não foi, porque em seu “dicionário
biográfico”, ele dá a informação correta, apesar de tropeçar na grafia – Cruz e
Souza, com z -, o que não chega a ser incomum.
Podia continuar calado, no meu canto, mas agredir o
autor de Broquéis e Faróis duas vezes em menos de uma semana
é demais pro meu estômago.
Como a poesia continua sendo necessária, apesar dos bacharéis,
dos jornalistas e dos acadêmicos, fiquem com um poema de João da Cruz e Sousa:
Acrobata da dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
Como um palhaço, que, desengonçado,
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta, clown, varado
Pelo estertor dessa agonia lenta...
Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
Nessas macabras piruetas d’aço...
E embora caias sobre o chão, fremente,
Afogado em teu sangue estuoso e quente,
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
Como um palhaço, que, desengonçado,
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta, clown, varado
Pelo estertor dessa agonia lenta...
Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
Nessas macabras piruetas d’aço...
E embora caias sobre o chão, fremente,
Afogado em teu sangue estuoso e quente,
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.
Cruz e Sousa (1861-1898) |