Fracasso
Zemaria Pinto
Eu sei
que só morreu o que esteve vivo. Do que houve entre nós restam apenas as cinzas
frias. Eu a amei demais? Qual é a medida certa de amar? Eu a sufocava? Com a
minha atenção, meu carinho ou minha presença? Ciúmes? Quem não teria ciúmes, no
meu lugar? Aconteceu como um tumor, que vai crescendo sem controle. Em pouco
tempo, eu já não era mais eu. Eu era ela. Eu era nós. Para se libertar dessa
relação embrutecida, ela tomou o único caminho possível. E me deixou reduzido a
mim mesmo, à ridícula história de um fracasso. Nem saudades eu sinto. Apenas a
sensação crônica e dolorosa de um soco no estômago.
Fracasso (1946), de Mário Lago (Rio de
Janeiro, 1911-2002). Samba-canção.
No Spotify, ouça a playlist Bolero’s Bar.