sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Bolero's Bar 26

Fracasso 

Zemaria Pinto


Eu sei que só morreu o que esteve vivo. Do que houve entre nós restam apenas as cinzas frias. Eu a amei demais? Qual é a medida certa de amar? Eu a sufocava? Com a minha atenção, meu carinho ou minha presença? Ciúmes? Quem não teria ciúmes, no meu lugar? Aconteceu como um tumor, que vai crescendo sem controle. Em pouco tempo, eu já não era mais eu. Eu era ela. Eu era nós. Para se libertar dessa relação embrutecida, ela tomou o único caminho possível. E me deixou reduzido a mim mesmo, à ridícula história de um fracasso. Nem saudades eu sinto. Apenas a sensação crônica e dolorosa de um soco no estômago.   

 

Fracasso (1946), de Mário Lago (Rio de Janeiro, 1911-2002). Samba-canção.

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