Pedro Lucas Lindoso
A ex-presidente Dilma foi muito criticada pela frase: “Ninguém
vai ganhar, ninguém vai perder. Vai todo mundo perder”. Como uma pitonisa às
avessas, ela previu o caos que estamos passando.
Todos nós estamos perdendo amigos, parentes, conhecidos,
colegas de trabalho para a terrível covid. Independentemente de partido
político, ideologia, sexo, religião, idade ou etnia. As perdas são muitas.
Muita dor. Muito medo. Muito sofrimento.
Uma senhorinha que perdeu o filho para o vírus dizia, aos
prantos:
– Foi uma “perca” muito grande.
O português é muito difícil mesmo. Há inda regionalismos,
erros, vícios linguísticos, que se incorporam indevidamente ao falar de
determinadas regiões. Ela não foi a primeira que ouvi falar “perca”, ao invés
do substantivo perda.
O verbo perder tem muitos significados. Quando transitivo
direto pode significar deixar de possuir. Ou fracassar. O time perdeu o jogo.
Ou ainda esquecer. Perdeu o dinheiro no trem. Por fim, o sentido mais usado
ultimamente é quando alguém morre. A senhorinha que perdeu o filho para a
covid.
Perder pode ser ainda pronominal. Significando sumir, por
exemplo. O sol perdeu-se no horizonte. Ou ficar atrapalhado. Perdeu-se na
estrada. Ou ainda, perdeu-se em sonhos impossíveis.
É fato que perder é um verbo irregular. No presente do
indicativo, por exemplo, se conjuga; eu perco, tu perdes, ele perde, nós
perdemos, vós perdeis, eles perdem. Já no presente do subjuntivo, se conjuga:
que eu perca, que tu percas, que ele perca, que nós percamos, que vós percais,
que eles percam.
A primeira pessoa do singular do presente do indicativo é eu
perco. E do presente do subjuntivo, que eu perca. Penso que isso deve levar as
pessoas a confundir o substantivo perda com perca.
Há um instituto jurídico, relativamente novo, que vem sendo
utilizado em ações diversas no âmbito do Direito Civil. A perda de uma chance.
Muitos alunos foram impedidos de fazer o Enem. Não havia salas o bastante para
o distanciamento sanitário entre os participantes. Isso é a perda de uma
chance. Ao serem inexplicavelmente impedidos de fazer o exame, a consequência
foi não entrar na faculdade. Cabe indenização.
Com tantas perdas em face dessa horrível pandemia, só me
resta conjugar o verbo perder no imperativo negativo:
– Não percamos a cabeça.