sábado, 16 de agosto de 2025

Garrote, o filme: a crítica da miséria e a miséria da crítica

 Zemaria Pinto

 

Um filme é o esforço coletivo de uma equipe, onde cada componente tem teu papel específico. Todos são igualmente importantes e se um elo da cadeia produtiva falha, uma série de consequências negativas se acumulam no processo de produção.

 

Márcio Souza, em A substância das sombras (2010), 

p. 143.

 

Depois de mais de um ano de produção, Garrote finalmente estreou, para um público restrito, no dia 14 de junho, no Cine Carmen Miranda. E após várias exibições, variando de casas cheias a vazias, já tínhamos o desenho da reação do público, entre a “vingança” pela ousadia da denúncia e a paradoxal indignação por termos trazido à tona aquelas lúgubres lembranças. Mas, faltava uma avaliação técnica, o que tivemos do jornalista Caio Pimenta, cujo link transcrevo abaixo, caso o caro leitor ou a cara leitora queiram ler o texto crítico e já se desobriguem de voltar a estas mal traçadas...

 https://cineset.com.br/critica-garrote-2025

 É preciso esclarecer que escrevo em meu nome, pois o grupo, mais inteligente que eu, optou por ignorar a opinião do crítico.  Que diz:

 

A obra marca as estreias de Bruno Pantoja e Zemaria Pinto no cinema: o primeiro como diretor e o segundo na função de roteirista após trabalhos como escritor e dramaturgo. E fica nítido como “Garrote” traz parte de seus problemas justamente da falta de experiência de ambos com a linguagem cinematográfica. De um lado, temos um filme que se apoia grande parte em diálogos, logo, os personagens falam tudo o que sentem e pensam a todo momento.

 

Apesar de “estreante”, não sou exatamente um neófito em escrever roteiros. Explico. No meu livro de contos Os que andam com os mortos (2023), entre entrevistas, ensaios, crônicas, fábulas, fragmentos dramáticos e até alguns contos mal disfarçados, há pelo menos dois roteiros cinematográficos, um deles escrito na primeira metade dos anos 1970. Mas, apesar do carnaval de gêneros, são apenas contos. Inclusive, os roteiros. Nada que eu diga, entretanto, vai ocultar minha incompetência. Uma curiosidade: foi meu primeiro livro, e talvez o último, de contos adultos, vencedor do prêmio de publicação Frauta de Barro, da Editora Valer. Artes do Bacellar, é provável, pois ele é o protagonista do conto que nomeia o livro.   

Mas o livro tem a pretensiosa intenção de trazer à luz um debate antigo: quais os limites da literatura? Ninguém tem dúvida de que o texto dramático é literatura. Seria Shakespeare o centro do cânone literário universal? E a poesia acasalada com a música? E não falo de ópera: Mr. Zimmermann, por favor... Deixo no ar duas apostas: nas graphic novels e no cinema. Ao fim e ao cabo, tudo é literatura. Mesmo quando não passa, como o nosso roteiro, de reles falatório. 

Se, como diz o querido Márcio Souza, na continuidade do texto usado como prólogo, “O ponto de partida para qualquer filme é o roteiro”, vamos falar do roteiro, responsabilidade deste que vos fala. Mas, antes, ouçamos novamente o crítico:

 

Este falatório se mostra voltado para uma ilustração da divisão social e política da cidade ao colocar a personagem de Amanda mais ligada à esquerda, pró-vacina e humanista, enquanto Begê faz o tipo negacionista, machista e bolsonarista. Seria um conflito rico não fosse a forma açodada como isso se cria, afinal, o personagem masculino sai do perfil príncipe encantado para um troglodita em um curto espaço de tempo, enquanto a outra fica como sendo a voz da racionalidade.  

A ideia de roteiro como falatório me traz boas lembranças dos primeiros contatos com Fellini, Godard, Truffaut – e sobretudo Glauber. Se em Terra em transe o falatório se tornava em música celestial, o que dizer de A idade da terra? A verdade, agora revelada, é que nada aprendi com eles. Talvez tenha me faltado capacidade ou talento mesmo para mostrar que o personagem João desde o início é um direitão raivoso, babando de ódio. Ele não se transforma de príncipe encantado em troglodita de forma açodada, pelo contrário: desde o primeiro contato com Maria, no bar, isso fica claro. Vou citar um ponto, bastante marcante na conversa com o público: negar-se a cantar “João e Maria”, de Sivuca e Chico Buarque, é uma afirmação ideológica. Outro: a primeira vez que eles falam em vacina, João “cria” um neologismo: vaChina. Se me disserem que forcei a barra, que é uma incoerência usar a expressão à época da narrativa, direi que usei uma licença poética. O resto seria inverossímil.

Sobre Maria, ela não é exatamente um poço de virtudes, tanto que pensava que seu pai era o “dono” da cidade onde moravam, mas ela não critica isso; pelo contrário, não só aceita, como usufrui: seu emprego foi conseguido por seu pai... Os personagens não são chapados, como o crítico afirmou sem dizer, mas esféricos, como pedem os bons manuais da área. Mas ninguém entendeu nada. Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa.

 

Aqui, entra a incapacidade de “Garrote” em conseguir pensar visualmente esta história. Desde as primeiras cenas no bar e na orla de Manaus, as cenas possuem um ar teatral com a câmera em plano aberto ou médio com os dois atores no centro. Não há closes, planos-detalhes nem mesmo um trivial plano e contraplano. Isso se agrava quando vamos para o apartamento em que não se pensa o imóvel como um personagem, algo visto diversas vezes ao longo da história do cinema – de “Gritos e Sussurros” a “Amor” e até em obras amazonenses com todas suas limitações financeiras como ocorreu com “O Barco e o Rio”, de Bernardo Abinader.  

 

Mais uma vez, dou a mão à palmatória: o apartamento foi pensado, sim, como um personagem. E seria estúpido se assim não fosse. Se não conseguimos passar essa ideia é outra coisa. O crítico não percebeu o ambiente opressivo, ajudando a esfacelar o relacionamento de João e Maria, trazendo à flor da pele os nervos decompostos. Culpa do roteiro, claro.

De resto, não sendo a minha praia, apenas pergunto-me se a falta de obviedade nos posicionamentos de câmera seria uma falha ou uma recusa de seguir o exibicionismo padrão, por parte do diretor Bruno Pantoja?

 

Sendo um filme de primeira viagem, pode-se relevar muitos dos problemas de “Garrote”, mas, isso não significa que eles não estejam lá e gritem a cada segundo. [Claro, claro, nós estamos surdos ouvindo tantos gritos.] Por fim, igual ocorrera em “O Buraco”, de Zeudi Souza, a preocupação na mensagem e condenação política à ignorância da extrema-direita é compreensível, mas, não podemos cair na armadilha que negacionistas e irresponsáveis pelo caos em Manaus – assim como machistas violentos no caso do curta estrelado por Jocê Mendes e Victor Kaleb – são exclusividade apenas dos bolsonaristas; esquerdomachos e estúpidos também sobram do lado da esquerda, infelizmente…

 É, parece que pesamos a mão esquerda. Mas, havia um propósito nisso. Nós temos um lado. E em 2026 teremos novas eleições. O povo votará, de novo, nos assassinos?


Para quem ainda não viu,
para quem quer ver de novo,
ainda tem mais Garrote,
e mais ainda terá,
pelos meses que se seguem,
para alegria do povo.

(Cordelito improvisado de João Sebastião,
poeta nefelibata, profeta do caos)



sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Artistas Plásticos do Amazonas, por Sérgio Cardoso 5/9

 

Otoni Mesquita.
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quinta-feira, 14 de agosto de 2025

A poesia é necessária?

Rio Negro

Simão Pessoa

 

Invejo o silêncio escuro destas águas

como objeto de límpida inocência

onde o deslumbramento transitório

deste agressivo rio-mar

repousa equivocado e gasto.

Sou fluido e gesto

na paisagem radiante

que estas águas anunciam

além do pólen e da luz.

Como sede no deserto

assim me quero água:

retratando a fauna entristecida,

refazendo a flora devastada.



terça-feira, 12 de agosto de 2025

Carta ao meu pai

Pedro Lucas Lindoso

 

Querido pai Zecão,

 

Hoje quero dedicar um momento para expressar o quanto sou grato por tudo o que o senhor fez por mim. E ainda faz. Pois sinto que, mesmo no Plano Espiritual, é possível uma interação entre nós baseada na maior virtude tão propagada e constantemente ensinada pelo Divino Mestre Jesus – o Amor.

Reconheço que foi o senhor quem me deu a vida, e por isso, tenho uma profunda admiração e gratidão pelo senhor.

Gostaria também de pedir desculpas por algo que disse e que possa ter magoado ou causado algum mal, quando o senhor estava entre nós neste plano. Sinto muito se minhas palavras ou ações lhe fizeram sentir o contrário do que realmente sinto.

Meu coração é cheio de respeito e amor por tudo o que o senhor representa nas nossas vidas.  Porque para mim e meus irmãos o senhor nem nossa mãe morreram. Só morre quem não deixa saudades. E a nossa é imensa.

Amo o senhor e minha mãe pelo que vocês foram, pelo que são eternamente na imortalidade em Cristo ao qual professamos.  E também pelo que fez pelos outros. Nos ensinou a amar nossa Manaus, nosso Amazonas e o seu povo.

Sua força, dedicação e exemplo são inspirações diárias para mim. Suas e de minha querida mãe. Dos muitos conselhos ressalto alguns: respeitar as pessoas, independente de raça ou etnia, religião, classe social ou ideologia.  Enfim, não ser preconceituosos ou intolerantes. Vivíamos, lá pelos anos sessenta, numa cidade ainda muito provinciana e patriarcal. Com preconceitos e costumes arcaicos.

Sobre perseverança e força de vontade, sempre nos dizia que “os generais não são aqueles que vencem as grandes batalhas. Mas os que vencem a si mesmos.” E nos advertia por diversas vezes que o essencial e importante é ser, e não ter. E ainda, o dever de amar e respeitar as mulheres. Como o senhor sempre agiu com nossa mãe. O pior “crime” que nós, os filhos homens, poderiam cometer era machucar ou bater em nossas irmãs.

Vocês tiveram sete filhos. É fato que fomos criados e amados como se fôssemos filhos únicos. Todos já expressaram e parecem reconhecer isso. Sou grato por ter tido um pai como o senhor e uma mãe que nos amava antes de nascermos.  Expressava esse amor fazendo casaquinhos e luvas de tricô adaptados para o clima tropical de nossa região. Tão gostosos e importantes para noites de friagem, mais comuns nas décadas de 1950 e 1960.

Sou muitíssimo grato por tudo que aprendi ao seu lado. Espero poder retribuir um pouco de tudo isso repassando às minhas netinhas seus ensinamentos e valores. Como o fiz com meus filhos. Quero ensiná-las o quanto o senhor e minha mãe foram importantes nas nossas vidas. E de muitas outras pessoas. E ainda continuam sendo.

Meus filhos nos deram essas preciosas netinhas, suas quatro bisnetinhas honrando sua descendência. Assim como meus irmãos, com seus netos e netas. Todos   conscientes   que   descendem   do   senhor.   Todos   expressam   grande   orgulho   e privilégio de serem descendentes do senhor e de nossa mãe.

Por fim, expresso definitivamente todo o meu amor incondicional que sei que não é só meu, mas de todos os seus filhos netos e bisnetos.

Nos veremos na eternidade.


Amine e José Lindoso.


domingo, 10 de agosto de 2025

Manaus, amor e memória DCCXXXV


Grupo Escolar Ribeiro da Cunha, na Silva Ramos, Centro.

 

sábado, 9 de agosto de 2025

Neste Remoto Agora - primeira antologia do século 21, em pré-venda


Antologia de poesia brasileira contemporânea 

organizada pelo crítico e escritor Henrique Duarte Neto.

GÊNERO: Poesia

FORMATO: 11X18 | ANO: 2025

PÁGINAS: 268 | Pólen natural, 80 gr

PREÇO: R$ 40,00

Poetas participantes:

ADEMIR DEMARCHI

ALEXEI BUENO

ANNA APOLINÁRIO

ANTONIO CARLOS SECCHIN

ANTÔNIO CUNHA

CLAUDIA ROQUETTE-PINTO

CLÁUDIO DANIEL

EDIMILSON DE ALMEIDA PEREIRA

FERNANDO PAIXÃO

HENRIQUE MARQUES SAMYN

JULIANA ABDON

JUSSARA SALAZAR

LILIAN AQUINO

MARCELO SANDMANN

MARCO AURÉLIO DE SOUZA

MARIANA MARINO

MARÍLIA KUBOTA

PAULO HENRIQUES BRITTO   

PRISCA AGUSTONI

RODRIGO TADEU GONÇALVES 

RUY ESPINHEIRA FILHO

RUY PROENÇA

TARSO DE MELO

ZEMARIA PINTO 


Link de pré-venda:

https://lambrequim.lojavirtualnuvem.com.br/produtos/pre-venda-henrique-duarte-neto-org-neste-remoto-agora/


sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Artistas Plásticos do Amazonas, por Sérgio Cardoso 4/9


Jair Jacqmont.
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quinta-feira, 7 de agosto de 2025

A poesia é necessária?


Invocação

Bruno de Menezes (1893-1963)

 

Ressoa selvagem o tambor de mina,

a roda se agita, os pés rodopiam;

domina o terreiro, transporta os sentidos,

o tom do atabaque na noite sem fim.

 

O “ponto” invocado se alteia, atuante,

em busca da “linha’ do rei Orixá,

que faz a defesa do povo Nagô.

 

Percute o batuque dos pulsos possantes.

Afoga o silêncio, acorda a floresta,

convoca as sereias do fundo do Mar...

 

Quem tira esse “ponto” pro santo “baixar”?

 

É que Ele está longe, no Céu africano.

Voltou para a guerra disposto a lutar,

mas tem “filha” que O pode chamar,

no estado de graça, na dança tribal...

 

É toda só dEle! Que coro, que canto!

Nos olhos de treva, na boca, no olhar!

– Por isso Ele “baixa” na voz de Cleomar!

 


terça-feira, 5 de agosto de 2025

Superstições: melhor deixar de lado

Pedro Lucas Lindoso

 

Agosto chegou, e com ele aquela sensação de que o mês traz, além do calor, um peso invisível — o desgosto. Dizem que é o mês do desgosto, como se o calendário carregasse uma maldição ancestral. Mas será que essa superstição tem alguma base, ou é apenas mais um fio na teia das crenças que tecemos ao longo da vida?

No mundo, cada cultura tem suas próprias marcas de azar. Na Espanha, a terça 13 é um dia sombrio; na Itália, a sexta 17 traz infortúnios. Aqui, no Brasil, a sexta 13 é que causa calafrios, mesmo que muitos tentem ignorar. E os gatos? Nos Estados Unidos, eles têm nove vidas. Aqui, nossos felinos parecem ter sete, talvez um pouco mais econômicos em esperança. Tia Idalina, com sua sabedoria prática, pede que ninguém conte a ela superstições — ela já conhece dezenas, e, sinceramente, não precisa de mais nenhuma. Afinal, o peso dessas crenças pode ser cansativo, e suas raízes muitas vezes inócuas, até mesmo prejudiciais.

Mas o que realmente importa é: essas superstições podem fazer mal ao psicológico? A resposta talvez dependa de quem as alimenta. Para alguns, elas são uma forma de ritual, de conexão com algo maior, uma forma de dar sentido ao incerto. Para outros, um fardo de medo e ansiedade que sobrecarrega a alma, que transforma dias comuns em momentos de tensão desnecessária.

Agosto, por exemplo, é considerado por muitos como o mês do desgosto, uma superstição que parece mais uma tradição cultural do que uma verdade comprovada. Talvez, ao carregar essa ideia, as pessoas alimentem uma expectativa negativa, criando um ciclo vicioso de pessimismo. E aí, surge a pergunta: até que ponto essa crença influencia o nosso estado de espírito? Será que, ao acreditar na má sorte do mês, inadvertidamente atraímos mais obstáculos do que se pensássemos positivamente?

No fundo, as superstições são um espelho do nosso desejo de controle num mundo imprevisível. Elas oferecem um refúgio, uma explicação fácil para o que não entendemos. Mas também podem se transformar num cárcere invisível, que limita nossa liberdade de agir e pensar.

Se olharmos com olhos mais atentos, perceberemos que o que realmente importa não é o que o calendário diz.  Importa é a nossa postura diante da vida. Que o mês de agosto, com sua fama de azar, seja apenas mais uma oportunidade de desmistificar o medo, de desafiar a sorte e de afirmar que, na maioria das vezes, somos nós quem escrevemos os nossos destinos, sem precisar seguir superstições que, no fundo, podem ser mais cansativas do que úteis.

E assim, como tia Idalina, podemos decidir deixar as superstições de lado, sabendo que o verdadeiro poder está em nossas mãos — e que, às vezes, o maior azar é mesmo acreditar demais naquilo que não passa de uma crença antiga. E que podemos, sim, reescrever.

 

domingo, 3 de agosto de 2025

Manaus, amor e memória DCCXXXIV


Grupo Escolar Carvalho Leal, na rua Borba, Cachoeirinha.

 

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Artistas Plásticos do Amazonas, por Sérgio Cardoso 3/9


Roberto Evangelista.
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