domingo, 19 de maio de 2024
quinta-feira, 16 de maio de 2024
A poesia é necessária?
Radiografia social
Henrique Duarte Neto
Jamais tantos néscios
passaram por sábios...
Ou, ao menos, gritaram,
ergueram a voz,
discursaram – tais quais
brilhantes oradores.
Tempos de imbecilidade
coletiva,
em que se dá voz
aos insensatos!
Quiçá, o último estágio
antes da ruína final!
terça-feira, 14 de maio de 2024
Filhos, sempre prioridade
Pedro Lucas Lindoso
Há uma
quantidade enorme de crônicas, depoimentos, poemas, canções e textos em geral
homenageando as nossas mães. Mês de maio, mês das mães. Um domingo só delas e
para elas. Homenageá-las por meio da escrita é fácil. O difícil é ser original,
sem ser piegas e ainda emocioná-las. Nossas queridas mães e leitoras. Uma
tarefa bem difícil. Mas é preciso sempre expressar amor por elas. Sempre.
Vou
começar as loas pela minha saudosa mãe. Ela começava a mimar e amar seus filhos
assim que se descobria gestante. Fazia sapatinhos, luvas e casaquinhos de tricô
como ninguém. Teve sete filhos. Todos amamentados e cuidados como se fossem
únicos. Sem jamais deixar de ser parceira e apoiadora incondicional de meu pai
em tudo e por tudo.
Minha
esposa Vera é uma mãe e avó devotadíssima. Quando nossos filhos eram pequenos,
Vera organizava, com meses de antecedência, as festas de aniversário. Decoração
esmerada, personagens infantis, além de muito brigadeiros e quitutes diversos.
Sempre um sucesso.
Marina,
nossa filha, esperou bastante pela chegada da Catarina. Nossa Senhora ouviu
suas preces e nossa princesinha chegou linda e perfeitinha. E pasmem, Catarina
era uma bebezinha de três meses. Surpresa! Isadora resolveu que chegaria também
para a família. Hoje Marina toma conta de não só uma, mas duas bebezinhas.
Mamãe em dose dupla. De amor e de trabalho.
Dona
Nice foi minha secretária na EMBRATUR em Brasília. Teve seu filho Rafael
acidentado brincando com álcool. O garoto ficou com o corpo bastante queimado.
Com nossa ajuda, levou o rapazinho para um hospital especializado em Goiânia.
Dona Nice foi uma heroína. Ela moveu céus e a terra para que seu filho tivesse
o melhor tratamento e se recuperasse. O diagnóstico inicial não era dos
melhores. Mas ela lutou e conseguiu recuperar a saúde do filho. O garoto hoje é um brilhante jovem advogado.
A
Princesa de Gales, Katherine, será a futura Rainha da Inglaterra. A jovem mãe escondeu
da Imprensa mundial e de todo o Reino Unido que estava com um grave problema de
saúde. O objetivo era preservar seus filhos. São bem crianças os jovens
principezinhos. A princesa necessitava de tempo para prepará-los para a grave
notícia. Katherine é muito querida em toda a Inglaterra. A notícia seria
impactante e pegaria as crianças despreparadas. Era preciso poupá-las. E
conseguiu.
É
conhecida a história da mãe do soldado displicente. Ao ver seu filho marchando
fora do passo, acreditou que todo o batalhão marchava errado. Seu filho era o
único no passo certo.
Elas
podem ser psicólogas, primeiras damas, secretárias, trabalhadoras ou rainhas.
Filhos são prioridades. Filhos estão sempre nos pensamentos das mamães. Em
momentos de amor ou na dor. FELIZ DIA DAS MÃES.
domingo, 12 de maio de 2024
quinta-feira, 9 de maio de 2024
A poesia é necessária?
Psicologia da composição
João Cabral de Melo Neto (1920-1999)
I
Saio de meu poema
como quem lava as mãos.
Algumas conchas tornaram-se,
que o sol da atenção
cristalizou; alguma palavra
que desabrochei, como a um pássaro.
Talvez alguma concha
dessas (ou pássaro) lembre,
côncava, o corpo do gesto
extinto que o ar já preencheu;
talvez, como a camisa
vazia, que despi.
II
Esta folha branca
me proscreve o sonho,
me incita ao verso
nítido e preciso.
Eu me refugio
nesta praia pura
onde nada existe
em que a noite pouse.
Como não há noite
cessa toda fonte;
como não há fonte
cessa toda fuga;
como não há fuga
nada lembra o fluir
de meu tempo, ao vento
que nele sopra o tempo.
III
Neste papel
pode teu sal
virar cinza;
pode o limão
virar pedra;
o sol da pele,
o trigo do corpo
virar cinza.
(Teme, por isso,
a jovem manhã
sobre as flores
da véspera.)
Neste papel
logo fenecem
as roxas, mornas
flores morais;
todas as fluidas
flores da pressa;
todas as úmidas
flores do sonho.
(Espera, por isso,
que a jovem manhã
te venha revelar
as flores da véspera.)
IV
O poema, com seus cavalos,
quer explodir
teu tempo claro; rompendo
seu branco fio, seu cimento
mudo e fresco.
(O descuido ficara aberto
de par em par;
um sonho passou, deixando
fiapos, logo árvores instantâneas
coagulando a preguiça.)
V
Vivo com certas palavras,
abelhas domésticas.
Do dia aberto
(branco guarda-sol)
esses lúcidos fusos retiram
o fio de mel
(do dia que abriu
também como flor)
que na noite
(poço onde vai tombar
a aérea flor)
persistirá: louro
sabor, e ácido
contra o açúcar do podre.
VI
Não a forma encontrada
como uma concha, perdida
nos frouxos areais
como cabelos;
não a forma obtida
em lance santo ou raro,
tiro nas lebres de vidro
do invisível;
mas a forma atingida
como a ponta do novelo
que a atenção, lenta,
desenrola,
aranha; como o mais extremo
desse fio frágil, que se rompe
ao peso, sempre, das mãos
enormes.
VII
É mineral o papel
onde escrever
o verso; o verso
que é possível não fazer.
São minerais
as flores e as plantas,
as frutas, os bichos
quando em estado de palavra.
É mineral
a linha do horizonte,
nossos nomes, essas coisas
feitas de palavras.
É mineral, por fim,
qualquer livro:
que é mineral a palavra
escrita, a fria natureza
da palavra escrita.
VIII
Cultivar o deserto
como um pomar às avessas.
(A árvore destila
a terra, gota a gota;
a terra completa
caiu, fruto!
Enquanto na ordem
de outro pomar
a atenção destila
palavras maduras.)
Cultivar o deserto
como um pomar às avessas:
então, nada mais
destila; evapora;
onde foi maçã
resta uma fome;
onde foi palavra
(potros ou touros
contidos) resta a severa
forma do vazio.
terça-feira, 7 de maio de 2024
Das penteadeiras ao camarim
Pedro Lucas Lindoso
Escrevi
uma crônica sobre o petisqueiro de minha avó. Muitas pessoas amigas sugerem
temas ao cronista. Depois da crônica do petisqueiro algumas garotas de minha
geração sugeriram que eu fizesse uma crônica sobre penteadeiras.
Eu
então resolvi pedir a algumas conhecidas que falassem sobre suas penteadeiras.
As respostas foram bem interessantes.
Uma delas me disse que herdou uma penteadeira antiga, linda, com espelho
que balançava. Depois confessou que a tinha vendido para um antiquário. O
motivo: não coube no seu novo apartamento.
Outra
me contou que sua penteadeira saiu de moda. O móvel atualmente se encontra num
sítio da família. Alguns relatos foram coincidentes. Os espelhos sempre
aparecem como objeto de destaque nos depoimentos. Muitas descreveram os
espelhos assim:
“As
penteadeiras tinham um espelho central e dois laterais que eram presos ao
central. De modo que se podia movê-los para perto do rosto. Assim, era possível
se ver os cabelos e os respectivos penteados da parte posterior da cabeça.
Tanto de um lado, como do outro.”
Nas
gavetas se colocavam grampos, laços, presilhas e fitas. Nessas gavetas também
eram guardados os produtos para maquiagem. Geralmente, um batom claro e um
pouco de “rouge”. Depois o tal “rouge” passou a ser chamado de “blush”. Nos
olhos, somente uma leve sombra, que hoje se chama “eye shadow”. Tudo muito discreto, como cabia a uma moça de
família.
Em cima
das penteadeiras, bem em frente ao espelho central, ficavam o talco e o perfume
da época. Uma delas confessou que usava um chamado de “Alma de Flores”, até
hoje presente nas farmácias.
Para a
grande maioria, o importante sempre foi o espelho, repita-se. Sem esquecer a
banqueta, que dava conforto, não só para se pentear, como para se maquiar –
“sempre sentadas”, explicou-me uma delas.
O espelho deveria ser bisotado ou “bisotê”. São espelhos que não
deformam a imagem, ainda que se mire de longe.
Muitas
penteadeiras foram transformadas ou desmembradas. Ou mudaram de função. Como a
de uma ilustre advogada cuja antiga penteadeira adorna a sua sala, onde coloca
porta-retratos com fotos das pessoas que lhe são queridas. As que foram
desmembradas, em sua maioria, ficam sem
os espelhos, realocados em outro ponto da casa.
Aliás, as penteadeiras, contudo, sempre
existiram e não acabarão jamais. No quarto de moças e senhoras privilegiadas de
nossos dias existe um móvel modulado com espelho e gavetas que se chama
camarim. Elas não vivem sem espelhos. Ainda bem.
domingo, 5 de maio de 2024
sexta-feira, 3 de maio de 2024
Usina Literária, com Zemaria Pinto
Usina Literária, podcast apresentado por Luiz Eduardo de Carvalho.
Acesse pelo Spotfy, clicando sobre a figura ou aqui:
quinta-feira, 2 de maio de 2024
A poesia é necessária?
Meu pranto
José Seráfico
É
para você o meu pranto
e...
para
mim também
para
e por Marielle
também
choro
mal
entrara na luta
que
tanta vida
tem
ceifado
tanta
amargura
multiplicado
tanto
ódio cultivado
meu
lamento se faz
diante
da música
que
já não tem
som
algum
perdido tiro
dos
oitenta disparados
calou
de vez o instrumento
e
a vida que ali
jaz
É
também por Vlado
que
meus olhos
vertem
água
por
sua falsa gravata
guilhotina
adequada aos tempos
de
terror
porque
amar dói
códigos
malditos
ódios
desatados
porões
infectados
das
piores (des)humanas
moléstias
merece
minhas lágrimas
não
tenho como negá-las
como
retê-las
muito
menos
as
chamas que deram
fim
a Ney Lopes
os
fuzis
de
Carandiru e os
fuzilados
camponeses
em
busca do Eldorado
cujas
caras e tudo
mais
jazem
no
buraco mais alto
foi
tudo quanto restou
Que
Frei Tito
ouça
meu langor
esteja
onde (onde?)
estiver
o que de
Rubens
restou
saibam
quanto deploro
a
partida de Dorothy Stang
o
jogo perdido por
Chico
Mendes
por
eles
(e
quantos mais)
é
que choro
saudoso
mais que
triste
sem
ódio
nenhum
rancor
as
lágrimas rolam
pela
impossibilidade
do
amor.