quinta-feira, 19 de junho de 2025

A poesia é necessária?

 

Bilhete Em Papel Rosa

Adélia Prado

A meu amado secreto, Castro Alves.

 

Quantas loucuras fiz por teu amor, Antônio.

Vê estas olheiras dramáticas,

este poema roubado:

“o cinamomo floresce

em frente do teu postigo.

Cada flor murcha que desce,

morro de sonhar contigo”.

Ó bardo, eu estou tão fraca

e teu cabelo é tão negro,

eu vivo tão perturbada,

pensando com tanta força

meu pensamento de amor,

que já nem sinto mais fome,

o sono fugiu de mim. Me dão mingaus,

caldos quentes, me dão prudentes conselhos,

eu quero é a ponta sedosa do teu bigode atrevido,

a tua boca de brasa, Antônio, as nossas vidas ligadas

Antônio lindo, meu bem,

ó meu amor adorado,

Antônio, Antônio.

Para sempre tua.