Marcos Frederico Krüger

Dessa forma, ao invés do apregoado
cientificismo da Escola do Recife, que daria base, segundo o senso comum
literário, à estética de Augusto dos Anjos, Zemaria Pinto propõe o Expressionismo,
uma das vanguardas artísticas do início do século XX, como chave para a
compreensão da poesia do autor de Eu.
O Expressionismo surgiu em 1910, na
Alemanha, junto com a revista “Der Sturm” (A Tempestade), e os recursos
expressivos de que se utilizou na literatura se verificam também na poesia de
Augusto, cuja única obra data de 1912. É o caso da linguagem recheada de metáforas,
com “palavras potentes” (“inexorabilíssimos”, “escarra”, “lama”) e sintaxe
muitas vezes “retorcida”. Ao
Expressionismo (ou derivado dele), aliam-se, nos poemas do paraibano, outras
formas de se posicionar no mundo, como o Budismo, por exemplo.
Prepare-se, pois, para adentrar um
universo analítico de muita argúcia, ao qual se alia a criatividade de Zemaria
Pinto, que tem os dons da teoria e da crítica literária, haja vista o conhecido
O texto nu, livro adotado em cursos
de Letras. O autor conhece também a oficina do fazer lírico,
posto ser poeta de apurada sensibilidade, como o comprovam seus livros Corpoenigma, Fragmentos de silêncio, Música
para surdos e Dabacuri. Esses
dois predicados o tornaram apto a analisar a obra de um poeta de sua (e nossa)
predileção.
Este trabalho foi apresentado ao
Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Amazonas em
abril de 2012, tendo dado ao autor o título de Mestre em Estudos Literários.
Não se trata, porém, de ensaio rançoso, típico de tantas dissertações que, burocraticamente,
são defendidas nos diversos programas. O que aqui você vai ler é uma contribuição
efetiva aos estudos literários no Brasil, posto desenvolver ideia inovadora e
apontar caminho novo para a percepção da arte de Augusto dos Anjos.
Percorrer as páginas desse livro o
enriquecerá e mostrará que a poesia é uma atitude muito eficaz de se posicionar
como indivíduo. Você perceberá também que a crítica literária exige
criatividade por parte de seu praticante. O crítico é, tanto quanto o poeta, um
artista.
(Orelha do livro A invenção do Expressionismo em Augusto dos Anjos, que será lançado no próximo sábado, às 10h, na livraria Valer.)