João Bosco Botelho
Teorizando em torno da associação entre o ético-moral –
gerando o bem, o bom, o certo, antepondo-se ao vício – ligado ao mal, ao mau, ao
errado, é interessante assinalar um ensaio teórico para apreender a ética
médica integrada à virtude.
É possível entender a virtude kantiana nas práticas médicas,
obrigatoriamente, ligada ao “bem”, ao “bom”, no qual o médico controla a dor e
adia os limites da vida, sempre festejado pelo doente. Dessa forma, seria
inadmissível pensar a Medicina como uma especialidade social para provocar a
dor ou a morte. Essa vertente ligando a ética médica aos bons resultados
entendidos como “boas práticas”, gerando bem-estar ao doente, está presente na
historicidade e na maior parte das atuais abordagens teóricas referenciais.
Nesse sentido, é possível resgatar relações dos saberes
historicamente acumulados atando a ética médica à boa prática, entendida pelo
senso comum como aquela que oferece bons resultados às demandas da clientela
por meio de ações que deveriam, obrigatoriamente, trazer melhorias à vida
pessoal e coletiva.
A historicidade dos códigos de ética da Medicina foi
construída entendendo os médicos e outros curadores como especialistas sociais
que devem saber controlar a dor e aumentar os limites da vida.
Heródoto, no seu extraordinário livro “História”, descreveu
um dia de festa, numa praça, na Mesopotâmia, quando doentes e curadores se
encontravam, para buscar as curas das doenças nos exemplos de doentes que
tiveram algo semelhante e se curaram fazendo ou bebendo isso ou aquilo. Ao
cruzarem com alguém que apresentava sinais e sintomas de alguma doença que
sabiam como curar, os curadores paravam para orientar, oferecer o tratamento.
A Medicina é muitíssimo mais recente em relações às milenares
práticas de curas anteriores, sem ensinamento formal. Nas culturas que se
organizaram e prosperaram, no segundo milênio a.C., os processos dos
aprendizados, amparados pelos poderes dominantes, na formação do médico, como o
principal agente da Medicina, estavam dentro dos templos mais importantes.
Essa Medicina, ligada à Ciência, é a única que construiu,
desconstruiu e continua reconstruindo propostas teóricas para desvendar a
origem das doenças nas dimensões cada vez menores da matéria e tem vencido as
barreiras para diminuir a abstração e aumentar a materialidade das doenças.