Amigos do Fingidor

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Depressão e genética: pós modernidade da medicina 1/2



 João Bosco Botelho


Ao aceitarmos a pós modernidade, como sugere Jean-François Lyotard, moldada pelo desencanto dos metarrelatos universalizantes, será inevitável o repensar do enquadramento metafísico de muitas palavras-sentimentos, como “razão”, “sujeito”, “totalidade”, “verdade” e “progresso”. 
Se abordarmos a pós modernidade da medicina sob o enfoque técnico científico, veremos com transparência que o pilar sustentador está fincado na aquisição do saber da engenharia genética – vendido, ao peso de muito ouro, ou negado pelos países desenvolvidos aos subdesenvolvidos, de acordo com as conveniências político-econômicas. 
A condição pós-moderna, resultante dessas pesquisas de ponta, obrigou à completa reformulação dos antigos conceitos em relação à saúde e à doença, aceitos desde o aparecimento, no século 17, da micrologia. 
Quando o mundo microscópico começou a ser revelado pelas lentes de aumento e foram identificadas as primeiras bactérias patogênicas, pensou-se que tudo estava resolvido no trato das doenças. Para isto, bastaria classificar o micro-organismo e descobrir o remédio. Nos anos seguintes, ficou evidenciado que o corpo humano tinha muitos componentes, ainda desconhecidos, também interferindo diretamente no processo. Com a ajuda do fantástico aparato médico industrial da modernidade, as máquinas passaram a mapear cada centímetro dos tecidos na busca das modificações ocorridas no período de tempo entre a entrada da bactéria e a instalação da doença. Tudo isso resultou na aquisição de um novo saber: os mecanismos imunológicos de defesa.  Foram três décadas de pesquisas para revelar o quanto é importante o papel dos linfócitos (células responsáveis por grande parte da defesa do organismo) na imunologia humana.
Entretanto, a grande conquista tinha sido realizada apenas parcialmente. A função imunológica de proteção à vida obedecia às ordens vindas do núcleo da célula, onde está o genoma (conjunto de genes). Os genes são formados por uma malha complexa de informações codificadas, responsáveis por todas as características internas e externas dos seres vivos. No homem e na mulher, eles respondem por desde a cor dos cabelos à pele dos pés. 
A partir dessa certeza, a medicina afastou-se dos princípios passivos da classificação morfológica das doenças e passou a utilizar a engenharia genética na busca de soluções para as mortes causadas pelo câncer e o envelhecimento.