Tríptico do espanto
Alencar
e Silva (1930-2011)
I
Tudo traz
sob a pele a sua morte:
a rosa e o
sonho dançam sobre o abismo
as formas de
uma só fatalidade
trabalhada
em equívocos. Sereno,
contudo, é o
meu semblante: este e o mesmo
que passeio
entre as gentes. A amargura
é disposta
em murais pelas paredes
do eu
profundo – e me espia. Duro é vê-la
contemplando
os meus gestos: de seus olhos
flui um rio
de sono, um rio sem barcos,
onda boia
meu rosto repartido
em cartazes
de espanto... Chove cinzas
sobre as asas de uma ave: e o canto,
ausente,
talvez mudo se cumpra eternamente.