Pedro Lucas Lindoso
A
cultura surge, segundo alguns antropólogos, quando o homem começa a cozinhar.
Já se comia jaraqui moqueado aqui há muito tempo. Estudos arqueológicos nos
mostram evidências de uso controlado do fogo, incluindo cozimento e manipulação
de calor, por volta de 8.000 a 6.000 anos atrás. Há ainda sítios com indícios
de cozimento em cerâmica, em ambientes de cozinha primitiva, entre 4.000 e
2.500 anos atrás.
Alguns
antropólogos dizem que a cultura começa quando o incesto é reconhecido. O homem
aprende quais mulheres pode e as que não pode acasalar. Esses fatos, como me
ensinaram na disciplina Introdução à Antropologia, tornaram os humanos
diferentes dos animais. Também é
ensinado como surgimento da cultura.
Eu
entendo, na minha concepção de leigo em Antropologia, que a cultura nasce
quando o homem começa a cozinhar. Mesmo porque muitos comportamentos de
acasalamento são influenciados por instintos, sinais químicos, visuais e pelo
ambiente. O incesto pode ocorrer, mas várias espécies possuem mecanismos que
reduzem a chance de acasalamentos entre parentes próximos.
Na
minha opinião a culinária deve ser o ponto chave do início da civilização
humana. Até hoje, grupos étnicos, regiões, cidades, países e até continentes
tem culinária, ou mesmo determinada comida ou prato que os caracteriza.
Quem
disse que a cultura dos povos originários é inferior a cultura dos
colonizadores europeus? Há quem acredite.
Mas é obrigação de todos nós respeitar e preservar. Há pelos menos 8.000
anos, repita-se, se come jaraqui moqueado ou cozido por aqui. Começaram a
substituir pirarucu por bacalhau tem pouco tempo.
É
preciso respeitar e preservar a cultura daqueles que cozinharam antes de nós.
Muitas evidências são indiretas como microrresíduos alimentares, carvão
vegetal, padrões de acidentes de fogo. E
as datas costumam ter margens de erro de algumas centenas de anos. Mas isso não
importa.
Por
outro lado, os indígenas sabem muito bem com quem casar para evitar
degeneração. Cientes de que a consanguinidade pode aumentar a frequência de
mutação genética e doenças recessivas. Muitas tribos planejam os casamentos com
mais expertise do que “europeus civilizados e seus descendentes”.
É
importante preservar a cultura de quem chegou e cozinhou há milênios atrás. Mas
nem todos pensam assim. Eles vivem até hoje protegendo e respeitando a
natureza. Fazendo extrativismo sustentável baseado em conhecimentos ancestrais.
É essencial respeitar os indígenas. Sempre. Atenção, COP 30.