Pedro Lucas Lindoso
A cada
final de ano, o cronista enfrenta o dilema de escrever uma crônica de Natal que
seja original. Os melhores cronistas brasileiros já esgotaram todas as
possibilidades. E ainda há os jornalistas, articulistas, autoridades
constituídas, pessoas do clero, professores e alunos. Muitos viram cronistas
inspirados numa época em que todos parecem ficar com o coração amolecido. E
então surgem inspirações e ideias para saudar as pessoas e o mundo pelo Natal.
Ninguém
esquece o coitado do peru, não o país, mas a ave. Antes, morria de véspera. Com
o advento do congelamento, morre meses antes. O peru já serviu de personagem
para muitas crônicas natalinas. O Papai Noel nem se fala. A maioria esquece o
aniversariante do dia. Ele que veio Menino para nos salvar.
Quando
procuro inspiração vou para a varanda, olho para o céu, respiro fundo e volto
para o quarto, deito e começo a matutar. Abro o facebook e vejo mais uma do
Professor de português Marcos Neves. Ele sempre aborda curiosidades do
Português, origem de palavras e constantemente adentra em aspectos culturais.
Mesmo porque língua e cultura são conceitos inseparáveis e que se agregam.
Foi
então que fiquei sabendo do “caganer”. Daria uma boa crônica, pensei. Mas
fiquei apreensivo. Pode ser desrespeitoso e até herético. Mas, ante a busca por
originalidade, resolvi apostar. Depois que a miss Brasil se vestiu do Nossa
Senhora e não houve protesto da Igreja, tudo é possível.
O
Caganer é um bonequinho típico de Barcelona, na Espanha. É figura tradicional de
Natal. Trata-se de um boneco camponês agachado, com calças abaixadas, defecando
no presépio, simbolizando boa sorte, fertilidade e prosperidade para o ano
seguinte. Como fazemos na Semana Santa com o judas, enforcando uma celebridade
ou um político, o caganer pode “homenagear” alguém. Uma figura pop, um político
de destaque ou qualquer celebridade do momento.
O
presépio catalão reúne os personagens comuns em qualquer presépio tradicional.
Lá estão Maria e José, o menino Jesus na manjedoura. Há os animais e alguns
pastores. Mas você irá encontrar um pequeno boneco escondido entre os
personagens tradicionais com as calças arriadas, fazendo discretamente suas
necessidades. O caganer geralmente se veste com calças pretas, camisa branca e
o clássico boné catalão vermelho chamado de barretina. Às vezes, ele aparece
fumando um cachimbo e lendo um jornal. É a parte engraçada de algo que deveria
ser muito sério, explica o povo de Barcelona. Uma cidade alegre, cosmopolita e
irreverente. O boneco é tão popular que conta com a sua própria sociedade, a
Associação dos Amigos do Caganer. Alguém aí se arrisca a colocar um caganer em
seu presépio? Fica a dica!