Pedro Lucas Lindoso
Assim como existem as palavras paternidade e maternidade, deveria
existir a palavra “vovocidade” ou “avocidade”. O exercício de ter netos. A
qualidade de ser avós.
Reportagem recente de A Crítica
fala de Renata, que não tinha sobrenome e nem documentos. Ganhou judicialmente
esse direito à cidadania. Renata viveu até os dezoito anos numa instituição de
acolhimento de crianças. Sem nunca ter
sido adotada, cresceu e se tonou adulta no orfanato, de onde saiu para a vida.
O sobrenome que adotou é uma homenagem a uma espécie de padrinho
que tinha no orfanato. A Defensoria Pública argumentou em juízo que a ausência
do sobrenome causava constrangimentos e impedia a prática de atos da vida
civil. A Vara de Registros Públicos
atendeu ao pleito e foi incluído um sobrenome, mesmo que fictício, nos
registros de Renata.
Está de parabéns a Defensoria, o Ministério Público e o Poder
Judiciário. Renata, muito feliz, disse que vai entrar com ação para mudar o
registro dos filhos e regularizar a situação do mais velho, que mora com ela,
mas o pai é que tem a guarda do menino.
Pensei nessas crianças que nunca terão avós. Jamais saberão o que
é “vovocidade”. Dia 26 de julho é comemorado o dia dos
Avós, data promulgada pelo Papa Paulo
VI em homenagem a Santa Ana
e São Joaquim, pais de Maria,
mãe de Jesus. Apesar da referência católica, o dia entrou para o calendário
laico, pelo menos, no Brasil.
Minha neta Maria Luísa tem avós maternos e paternos. Os quatro exercem
com alegria, plenitude e muito amor essa função divina e maravilhosa da
“vovocidade”. Não é preciso muito esforço para notar como a interação entre
netos e avós é positiva. A convivência é muito benéfica para ambos.
Maria Luísa
é uma privilegiada. Levá-la para passear e brincar não é uma obrigação ou uma
forma de gastar a energia dela. Estar com a nossa netinha é uma oportunidade
deliciosa de curtir e se divertir de verdade com ela.
É um grande
contentamento o exercício da “vovocidade”. Ou seria “avocidade”?