Pedro Lucas Lindoso
Conversava com um amigo parlamentar sobre as outorgas de
títulos de cidadão amazonense. O assunto é controvertido. Sempre que alguém de
quem não se gosta ou se admira recebe o título, há críticas. Outros não se
conformam com a profusão de homenagens. Parece que falta assunto para os
parlamentares colocarem em pauta.
O nobre deputado aproveitou para saber minha opinião sobre
determinado senhor indicado para tornar-se cidadão amazonense. Marcamos um “chopp”
no final da tarde de sexta-feira. Era preciso conhecer e conversar com o
postulante a tão cobiçado título.
O candidato a nossa cidadania é oriundo de Santarém. Mais do
que paraense, o pessoal de lá é tapajoense. Na verdade, desde a Independência
do Brasil, a completar 200 anos ainda neste lustro, o povo das margens do
Tapajós quer ficar independente politicamente do Pará.
Os habitantes da região do Tapajós são praticamente
amazonenses. A cultura é a mesma dos caboclos do baixo Amazonas. Comem peixe,
tartarugas e tacacá como nós.
Diferente de alguns dos migrantes do sudeste. Há sulistas que
ganham muito dinheiro por aqui. Mas falam mal dos caboclos, reclamam do calor e
vão empregar seu dinheiro em Miami ou no sul maravilha. E se dizem manauaras!
Conversando com o rapaz de Santarém e candidato a amazonense,
descobri que veio para Manaus ainda bem jovem. Aqui se formou dentista. Faz
trabalho junto às comunidades carentes. Toma tacacá com tucupi azedo como nós.
E confessou:
– Adoro uma tartarugada! E ainda como arabu! Que é ovo de
tartaruga batido e cru! Come-se com farinha e uma pitada de sal ou açúcar.
Perguntei-lhe se ele gostava de nossas frutas, no que ele nos
disse:
– Gosto muito de tucumã e x-caboquinho. Como pupunha e
aprecio muito o cupuaçu. De todo jeito. Do suco, do doce, do bombom e do salame.
Disse ao meu amigo deputado que o rapaz estava aprovado. É
totalmente merecedor do título de cidadão amazonense. Poucos amazonenses das
novas gerações ainda conhecem e comem arabu e salame de cupuaçu.
RECEITA DE SALAME DE CUPUAÇU
Coloque numa panela, a polpa de cupuaçu e o açúcar. Leve ao
fogo, mexendo sempre, até soltar do fundo. Deixe esfriar e acrescente as
castanhas-do-pará torradas e moídas. Enrole, dando o formato de um salame.
Depois enrole em papel-alumínio e por cima, em papel celofane.