Amigos do Fingidor

quinta-feira, 2 de maio de 2024

A poesia é necessária?

 

Meu pranto

José Seráfico

 

É para você o meu pranto

e...

para mim também

para e por Marielle

também choro

mal entrara na luta

que tanta vida

tem ceifado

tanta amargura

multiplicado

tanto ódio cultivado

meu lamento se faz

diante da música

que já não tem

som

algum perdido tiro

dos oitenta disparados

calou de vez o instrumento

e a vida que ali

jaz

 

É também por Vlado

que meus olhos

vertem água

por sua falsa gravata

guilhotina adequada aos tempos

de terror

porque amar dói

códigos malditos

ódios desatados

porões infectados

das piores (des)humanas

moléstias

merece minhas lágrimas

não tenho como negá-las

como retê-las

muito menos

as chamas que deram

fim a Ney Lopes

os fuzis

de Carandiru e os

fuzilados camponeses

em busca do Eldorado

cujas caras e tudo

mais jazem

no buraco mais alto

foi tudo quanto restou

 

Que Frei Tito

ouça meu langor

esteja onde (onde?)

estiver o que de

Rubens restou

saibam quanto deploro

a partida de Dorothy Stang

o jogo perdido por

Chico Mendes

por eles

(e quantos mais)

é que choro

saudoso mais que

triste

sem ódio

nenhum rancor

as lágrimas rolam

pela impossibilidade

do amor.