Amigos do Fingidor

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

A poesia é necessária?

 

Do urutau

Max Carphentier

 

Vivendo de morrer do amor perdido,

a alma da cunhã, presa na lua,

às vezes desce sobre a noite, e canta

com o nome de urutau, ave das sombras,

em que se encarna pra sofrer nos ramos.

É que Tupã um dia a condenara,

por ter sido infiel, a errar nas trevas,

penando como fazem as flautas tristes.

E vem nesse cantar da lua à terra

toda mágoa dos olhos que interrogam

o céu sobre o pesar do amor sozinho,

como o pesar que sofre essa cunhã

que, se um falaz amor tarde traíra,

do verdadeiro amor cedo partira.