Amigos do Fingidor

quinta-feira, 22 de março de 2018

Serpente: o símbolo da medicina 2/2



João Bosco Botelho


De acordo com a mitologia grega, a medicina começou com Apolo, filho de Zeus com Leto. Apolo é reconhecido na literatura com dezenas de qualificações, além de deus curador. Foi também identificado como Aplous, aquele que fala a verdade. O poder dele era transmitido à água dos banhos que purificava a alma e por isto era considerado o deus que lavava e libertava o mal.
De modo geral, o herói grego estava associado à arte de curar. Grande número de deuses e personagens da mitologia grega tinham, entre os seus atributos, o dom de curar doenças e feridas de guerra.
Um dos filhos de Apolo, Asclépio, foi educado pelo centauro Quirão para ser médico. O centauro, metade homem e metade cavalo, possuía o completo conhecimento da música, magia, adivinhação, astronomia e da medicina, além de ter a maior habilidade entre todos, a ponto de manejar com igual beleza o bisturi e a lira.
Para os gregos, predominou a ideia de que Asclépio deificava a medicina na mitologia. Por esta razão, era celebrado em grandes festas públicas, próximas ao dia 18 de outubro do nosso calendário, data em que, até hoje, no Ocidente, se comemora o dia do médico.
Asclépio conquistou uma fama inimaginável. Muito mais cirurgião, ele criou as tiras, as ligaduras e as tentas para drenar as feridas. Chegou a ressuscitar os mortos e por essa razão foi fulminado por Zeus com os raios dos Ciclopes. Zeus matou Asclépio porque temia que a ordem natural das coisas fosse subvertida pelas curas e pela ressurreição dos mortos.
Asclépio deixou duas filhas, Hígia e Panaceia. A primeira representava a medicina preventiva e a higiene, e a segunda se notabilizou por curar os doentes com os segredos das plantas medicinais. Além delas, seus dois filhos, Machaon e Podalírio, foram médicos guerreiros, que se destacaram na guerra de Tróia e são citados nominalmente por Homero (Ilíada, 830).
Muitos afrescos retratando Asclépio produzidos no século 4 a.C., contêm uma serpente enrolada num bastão. É possível estabelecer duas imagens simbólicos que uniram a serpente à medicina. A primeira está ligada ao fato dela poder viver acima e abaixo da terra, mediando dois mundos diferentes, em estreito vínculo com a localização subterrânea do outro mundo. A segunda, mais importante, está associada ao renascimento por meio da renovação periódica da pele.