Eu não sei
Pollyanna Furtado
Eu não sei, mas deveria
saber
que o ser humano pode
saber tanto
e que, no entanto, de
tudo que sabe,
não sabe o que realmente
importa.
Eu não sei, mas deveria
saber
que a ignorância é maior
do que o entendimento;
que a dúvida é sempre uma
dádiva
quando a certeza absoluta
nos cega.
Eu não sei, mas deveria
saber
que a realidade não se
resume
ao meu estreito
conhecimento;
que se existe tanta
divergência
é porque às vezes posso
estar enganado.
Eu não sei, mas deveria
saber
que eu não sou a medida
de todos
e que, portanto, o que
vale para mim
pode não valer para
tantos outros.
Eu não sei, mas deveria
saber
que se eu não sou medida
dos outros,
também os outros não me
são medida,
mas isso não significa
desprezar
o princípio essencial que
nos liga.
Eu não sei, mas deveria
saber
que o meu ódio é o meu
veneno;
que, com ele, mato
supostos inimigos
e, pouco a pouco, também mato
a mim mesmo.
Eu não sei, mas deveria
saber
que se existe um Deus,
esse Deus é Amor
e que o Amor é luz e
comunhão divina
e nada nesta nossa vida,
nada justifica
essa ânsia de ceifar
outras vidas.