Amigos do Fingidor

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

A poesia é necessária?


Cultura

Lu Nobre

 


Arderam muitos sóis

 

Limpou

Adubou

Arou

Semeou

Irrigou

 

Deitaram-se muitas luas

 

Combateu gorgulhos orgulhosos 

Cascudos atrevidos

Bicheiras sorrateiras

Percevejos invejosos

Engoliu lagartas famintas

Descartou junquinhos

 

Rugas

Rusgas

Rasgos

 

Depois de colher,

Pilou, gemeu

Gemeu, cantou

Transpirando, pilou

Pilou, pilou

 

De paneiro conjugado às mãos,

Numa dança braçal que só ele conhecia,

O lavrador, então,

Tomou lugar contra o vento,

Que soprou, soprou, soprou

As cascas de tudo

 

O que ficou alimenta.