Zemaria Pinto
Aconteceu na última sexta-feira, 24 de janeiro, a “Mostra de
Cinema CABA”, da Companhia de Artes Bacaba, no Teatro Gebes Medeiros, que está
abrigando a programação do Cine Guarany, em obras.
(Você já sacou, leitora/leitor, que a caba em questão não é o
simpático himenóptero, de ferroada terrível, mas um acrônimo para Companhia de
Artes...)
A CABA (essa fusão é prevista) já nasce grande: “acreditamos que
a arte é uma ferramenta poderosa para celebrar, questionar e refletir sobre o
mundo ao nosso redor”, diz o prospecto de apresentação da Mostra, o que os
curtas-metragens apresentados, mais o show musical de abertura – “Na trilha do
maraká” –, confirmam plenamente.
Vendo Boto
(2020), dirigido pelo ícone do teatro amazonense Nonato Tavares, mostra Fidelis
Baniwa no papel do mitológico sedutor dos beiradões amazônicos.
Tributo a Chico Mendes (2020), direção de Bruno Pantoja, o líder da Companhia de
Artes Bacaba, faz o registro audiovisual da leitura da peça que dá título ao
filme, de autoria de João das Neves. Mais que teatro filmado, com as limitações
da leitura, Tributo... é um exercício de criatividade e beleza,
potencializando o efeito da tragédia do líder acreano.
Feira do Troca (2022), dirigido por Bruno Pantoja, mostra a ativista Olga
D’Arc conduzindo um evento inusitado: uma feira onde não se usa dinheiro, mas
apenas o “escambo”, isto é, a troca de produtos e o compartilhamento de
experiências e muitas histórias.
Viva Sebastião! (2023), sob a direção de Bruno Pantoja, assistimos a
festejos em homenagem a São Sebastião que remontam a mais de cem anos, sustentados
unicamente pela fé popular e pelas imbricações entre religiosidade e cultura.
Santo Antônio da Terra Preta (2024), o mais recente trabalho da
CABA, também dirigido por Bruno Pantoja, retoma o tema do filme anterior,
analisando a festa de Santo Antônio, em Manacapuru, outra tradição centenária,
aliás, perto de bicentenária, pois nasceu das promessas dos parentes que temiam
perder seus entes queridos que lutavam na guerra da Cabanagem (1835-1840). Pela
qualidade técnica, bem como a combinação entre entrevistas e registros, o filme
destaca-se dos demais, mostrando a evolução da Produtora e do diretor.
O próximo filme é um desafio ainda maior: Garrote, ambientado na Manaus de 2021, em plena crise de oxigênio, que ceifou a vida de milhares de amazonenses. É um filme de ficção que passa longe do panfletarismo, investigando a deterioração das relações num ambiente que combinava o descaso pela saúde pública e o negacionismo. Aguardemos.