Amigos do Fingidor

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Mostra de cinema CABA, a Amazônia como ela é

 Zemaria Pinto

 

Aconteceu na última sexta-feira, 24 de janeiro, a “Mostra de Cinema CABA”, da Companhia de Artes Bacaba, no Teatro Gebes Medeiros, que está abrigando a programação do Cine Guarany, em obras.

(Você já sacou, leitora/leitor, que a caba em questão não é o simpático himenóptero, de ferroada terrível, mas um acrônimo para Companhia de Artes...)

A CABA (essa fusão é prevista) já nasce grande: “acreditamos que a arte é uma ferramenta poderosa para celebrar, questionar e refletir sobre o mundo ao nosso redor”, diz o prospecto de apresentação da Mostra, o que os curtas-metragens apresentados, mais o show musical de abertura – “Na trilha do maraká” –, confirmam plenamente.




  Vendo Boto (2020), dirigido pelo ícone do teatro amazonense Nonato Tavares, mostra Fidelis Baniwa no papel do mitológico sedutor dos beiradões amazônicos.

Tributo a Chico Mendes (2020), direção de Bruno Pantoja, o líder da Companhia de Artes Bacaba, faz o registro audiovisual da leitura da peça que dá título ao filme, de autoria de João das Neves. Mais que teatro filmado, com as limitações da leitura, Tributo... é um exercício de criatividade e beleza, potencializando o efeito da tragédia do líder acreano.

Feira do Troca (2022), dirigido por Bruno Pantoja, mostra a ativista Olga D’Arc conduzindo um evento inusitado: uma feira onde não se usa dinheiro, mas apenas o “escambo”, isto é, a troca de produtos e o compartilhamento de experiências e muitas histórias.

Viva Sebastião! (2023), sob a direção de Bruno Pantoja, assistimos a festejos em homenagem a São Sebastião que remontam a mais de cem anos, sustentados unicamente pela fé popular e pelas imbricações entre religiosidade e cultura.

Santo Antônio da Terra Preta (2024), o mais recente trabalho da CABA, também dirigido por Bruno Pantoja, retoma o tema do filme anterior, analisando a festa de Santo Antônio, em Manacapuru, outra tradição centenária, aliás, perto de bicentenária, pois nasceu das promessas dos parentes que temiam perder seus entes queridos que lutavam na guerra da Cabanagem (1835-1840). Pela qualidade técnica, bem como a combinação entre entrevistas e registros, o filme destaca-se dos demais, mostrando a evolução da Produtora e do diretor.

O próximo filme é um desafio ainda maior: Garrote, ambientado na Manaus de 2021, em plena crise de oxigênio, que ceifou a vida de milhares de amazonenses. É um filme de ficção que passa longe do panfletarismo, investigando a deterioração das relações num ambiente que combinava o descaso pela saúde pública e o negacionismo. Aguardemos.