Amigos do Fingidor

domingo, 18 de maio de 2025

Manaus, amor e memória DCCXXIII

 

Vista aérea do Palácio Rio Negro e seu entorno.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Leitura de "O urubu albino" pelo autor

 

Zemaria Pinto lê O urubu albino.

quinta-feira, 15 de maio de 2025

A poesia é necessária?

 

Ode ao burguês

Mário de Andrade (1893-1945)

 

 

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,

o burguês-burguês!

A digestão bem-feita de São Paulo!

O homem-curva! o homem-nádegas!

O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,

é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

 

Eu insulto as aristocracias cautelosas!

Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!

que vivem dentro de muros sem pulos;

e gemem sangues de alguns mil-réis fracos

para dizerem que as filhas da senhora falam o francês

e tocam os “Printemps” com as unhas!

 

Eu insulto o burguês-funesto!

O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!

Fora os que algarismam os amanhãs!

Olha a vida dos nossos setembros!

Fará Sol? Choverá? Arlequinal!

Mas à chuva dos rosais

o êxtase fará sempre Sol!

 

Morte à gordura!

Morte às adiposidades cerebrais!

Morte ao burguês-mensal!

ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!

Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!

“– Ai, filha, que te darei pelos teus anos?

– Um colar... – Conto e quinhentos!!!

Mas nós morremos de fome!”

 

Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina pasma!

Oh! purée de batatas morais!

Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!

Ódio aos temperamentos regulares!

Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!

Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!

Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,

sempiternamente as mesmices convencionais!

De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!

Dois a dois! Primeira posição! Marcha!

Todos para a Central do meu rancor inebriante!

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!

Morte ao burguês de giolhos,

cheirando religião e que não crê em Deus!

Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!

Ódio fundamento, sem perdão!

 

Fora! Fu! Fora o bom burgês!...



terça-feira, 13 de maio de 2025

Priorizar o amor e a ação

Pedro Lucas Lindoso

 

Nota-se que houve alguma mudança na Missa. Após a Consagração, o padre dizia: “Eis o mistério da Fé”. Agora se diz: “Mistério da Fé e do Amor”. Foi suprimido o advérbio “eis”. Achei bom. É pouco usado. Soa um pouco pedante. É desnecessário. Trata-se de um advérbio que significa “aqui está”, “olhe”, “veja” ou “aqui tens”. É usado para apresentar algo ou alguém, geralmente presente ou próximo do interlocutor.

Porém, o mais importante foi acrescentar a palavra Amor. A Fé sem amor, sem caridade, sem ação é vazia. Inócua. Com certeza essa mudança no missal atende às diretrizes do já saudoso Papa Francisco.

Dentre as virtudes teologais — Fé, Esperança e Amor – não resta dúvida de que a maior de todas é o Amor. As três virtudes que iluminam o caminho do homem: Fé, Esperança e Amor. São presentes divinos que nos guiam, fortalecem e elevam nossa alma. O Amor resplandece com uma luz especial. Foi o maior ensinamento do Cristo. Engloba todos os mandamentos. Quem ama não rouba, não mata, não trai, não corrompe. Honra pai e mãe.

Sem dúvida que a Fé é o primeiro passo. É a confiança inabalável na presença de Deus, mesmo quando tudo parece escuro e incerto. É acreditar sem ver, é o farol que ilumina a jornada nas noites mais densas. Sem fé, a esperança perde seu sentido, e o amor, sua raiz.

A Esperança nos mantém de pé, mesmo diante das adversidades. É a certeza de que algo melhor ainda está por vir, uma âncora que nos impede de naufragar na desesperança. Ela nos impulsiona a seguir, a lutar, a acreditar que o amanhã pode ser mais justo e misericordioso.

Porém, entre todas as virtudes, o Amor brilha com luz própria e que, na essência, é a culminação de todas as demais: o Amor não é um sentimento passageiro, mas uma força transformadora. Amor que perdoa, que aceita, que se doa sem reservas. É o amor que une, que cura, que nos torna verdadeiramente humanos. Sem Amor, Fé e Esperança perdem seu sentido mais profundo. Pois a Fé sem Amor torna-se rígida, a Esperança sem Amor é vazia. O Amor é o ápice, o ápice do relacionamento com Deus e com o próximo. É a virtude que revela a verdadeira essência do ser humano.

Por isso, podemos afirmar que, embora a Fé e a Esperança sejam essenciais, o Amor é o maior de todos. Que nossas vidas sejam permeadas pelo Amor, porque, afinal, é nele que encontramos a plenitude de nossa existência. E, como disse São Paulo, “o maior de tudo é o Amor”. Que o próximo papa siga os passos de Francisco. Priorizando o Amor, a caridade, a ação. Como cantam os Beatles, “all we need is love”. Tudo que precisamos é o amor.

 

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Academia Amazonense de Letras elege dois novos membros


Lourenço dos Santos Pereira Braga, advogado, primeiro Reitor da UEA,
ocupou inúmeros cargos públicos. Foi eleito para a Cadeira 5, antes ocupada
pelo poeta e prosador Almir Diniz.


 

Pedro Lucas Lindoso, advogado, funcionário de carreira da Petrobras, aposentado, é cronista e romancista. Sua crônica semanal é reproduzida neste Blog, às terças-feiras. Pedro foi eleito para a Cadeira 25, cujo último ocupante foi o romancista e dramaturgo Márcio Souza. O pai de Pedro, ex-governador José Lindoso, ocupou a mesma cadeira de 1970 a 1993. 



domingo, 11 de maio de 2025

quinta-feira, 8 de maio de 2025

A poesia é necessária?

 

Emissário do ridículo

Diego Mendes Sousa

 

Todas as cartas de amor são ridículas.

Fernando Pessoa

 

A poesia é a máxima expressão do ridículo

e o poeta é um ser

excêntrico e risível.

 

O ridículo torna-se íntimo das palavras

e o poema

é a peça orgânica

que viabiliza

o estranhamento da linguagem.

 

É no poema que o poeta expõe

as suas dores

e as suas mazelas,

a operar a desprezível história pessoal,

a revelar

a sua exótica humanidade.

 

A poesia é assim,

a insanidade a rir de si mesma.

 

Prefiro ser ridículo

a ter que perder as paredes testemunhais

dos meus sentimentos

e sofrimentos.

 

Reencontro a minha infância,

porque é na inocência

(ou ainda no amor ausente ou na urgência da paixão)

que reside toda alma

devota ao ridículo.

 


terça-feira, 6 de maio de 2025

O trabalhador sustenta o presente e constrói o amanhã

Pedro Lucas Lindoso

 

O primeiro de maio no hemisfério norte é o auge da primavera. A natureza se renova e as flores mostram sua exuberância e beleza. No norte do planeta, onde estão a maioria das nações mais ricas e poderosas, também se celebra o Dia do Trabalhador. Exceto nos Estados Unidos que comemoram o Trabalho em setembro.

Nesse dia devemos celebrar o trabalhador. Inclusive suas conquistas e promoção e defesa de seus direitos. A historiadora Dhyene Vieira dos Santos foi recentemente empossada como membro efetivo do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas – IGHA. Em seu livro Trabalho & vida urbana[1], sobre motoristas e condutores de bonde da Manaus do início de século 20, ela nos ensina que: “O mês de maio em Manaus não se limitava ao dia 1° para as mobilizações dos condutores. As mobilizações ocorreram em várias datas, como 1° de maio de 1902, 31 de maio de 1910, 14 a 20 de maio de 1919 e 21 e 28 de maio de 1927”.

Neste maio é preciso celebrar a força daqueles que, dia após dia, constroem, cuidam, criam e lutam por um amanhã melhor. Celebrar aqueles cujas mãos não cansam de transformar sonhos em realidade. Um reconhecimento silencioso e vibrante de que o progresso de uma nação está nas mãos de quem trabalha. É uma celebração da dignidade do trabalho, do suor, da esperança, da perseverança. Cada profissão, cada atividade, por mais simples que pareça, tem seu valor e seu papel na grande engrenagem social.

Lembramos que o trabalhador não é apenas alguém que troca seu tempo por um salário. É o artesão que molda o futuro, o professor que alimenta mentes, o enfermeiro que cuida da vida, o agricultor que alimenta a nação, o operário que constrói sonhos de concreto e esperança. Cada um, à sua maneira, merece reconhecimento, respeito e gratidão. Ao celebrarmos o trabalhador, também refletimos sobre as desigualdades, os desafios e as batalhas diárias. Que essa data seja um lembrete de que o trabalho digno é um direito, uma causa a ser fortalecida, uma ponte para a justiça social.

É preciso também renovar nosso compromisso com a valorização do trabalhador, com a busca por condições mais justas, e com a esperança de um futuro onde o esforço de cada um seja reconhecido e recompensado com dignidade, respeito e oportunidades.

Os trabalhadores são os que fazem a história, sustentam o presente e constroem o amanhã.

 



[1] SANTOS, Dhyene Vieira dos. Trabalho & vida urbana: motoristas e condutores de bondes em Manaus (1899-1930). Manaus: EDUA; São Paulo: Alexa Cultural, 2024.


domingo, 4 de maio de 2025

Manaus, amor e memória DCCXXI

 

Vista parcial da Avenida Eduardo Ribeiro, em 1914.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

A poesia é necessária?

 

desvãos

Marta Cortezão

 

Quem ri quando goza / é poesia/ até quando é prosa

(Alice Ruiz)

 

meu silêncio lambe tua orelha

e se arvora feito cobra

para infiltrar-te o veneno

 

meu silêncio se espicha

pelas frestas feito lagartixa

para roubar-te a fala

 

meu silêncio aflora

e ri que goza

quando lambe

quando cobra

quando se larga e atiça

para confundir-te as horas

e de olhos nos olhos

alimentar-te a prosa

com íntima poesia