Amigos do Fingidor

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

A poesia é necessária?

Pátria

Saturnino Valladares


Pátria de sangue,

única terra que conheço e que me conhece,

única pátria em que acredito,

única porta para o infinito.

Octavio Paz

 


Caminhei de terra em terra, procurando-te,

arrancando gemidos das pedras,

incendiando o rio em suas margens

mordendo o musgo azul das árvores.

 

Caminhei até encontrar minha pátria:

a curva do teu pescoço,

a cintura de água,

os seios e o beijo que nasce em minha boca.

 

Eu não tenho mais pátria que teu corpo.

 

Desnuda-te,

para que a chuva te molhe os pés,

e por teus tornozelos cresça uma trepadeira

em direção à luz que repousa em teu ventre.

 

Desnuda-te,

porque eu sou a sombra da trepadeira.

Tu és minha pátria.

 

Desnuda-te e abraça-me,

agora que por fim te encontrei.


Tradução: Zemaria Pinto