Jorge Tufic
Não há meio de parar com sua leitura, posto que os incidentes ocorrem de uma para outra página, e o tempo ficcional do enredo anula os ponteiros do relógio. Nas quase 80 páginas do livro, foram poucos os intervalos do olhar sequioso por novas cenas e novos desdobramentos da estória desse homem, personagem e narrador onisciente, capaz de seguir os avanços de uma doença pertinaz a minar seu próprio organismo, mas nunca de substituir sua paixão pela pessoa amada, de modo algum, pelo temor à morte.
Ressalte-se, nele, também, a linguagem poética e o estoicismo no enfrentamento do destino, assinalado, talvez, por um destes casos raros da medicina, embora os avanços da própria ciência em busca de um diagnóstico preciso. Fazer disso tudo a trama de uma novela sob o título de Amor no tempo do câncer, é ou não é vencer a fúria do caranguejo e triunfar, com glória, acima dos aparentes absurdos que a vida nos coloca diante dos olhos?
Carlos Costa, poeta, jornalista e assistente social, está de parabéns com mais esta obra de intensidade lírica e narrativa, para grandeza das letras amazônicas.
Trata-se de um texto definitivo. Linguagem e organização me parecem resolvidos. E as possibilidades de leitura ao alcance de todos, ou seja, daqueles que se fazem o objeto da narrativa enquanto ela própria; mas, se for o caso,também do aspecto histórico e biográfico do autor, situação ambígua no caso desta novela. Louve-se, afinal, a construção de significados além do simples relacionamento das personagens do livro, o que o torna prazeroso na transmissão de valores que interagem com o enredo sobremaneira complexo e surpreendente.