Amigos do Fingidor

quinta-feira, 11 de abril de 2024

A poesia é necessária?

 

A pantera

Jorge Luis Borges (1899-1986)

 

Atrás das fortes grades a pantera

Repetirá o enfadonho itinerário,

Que é (mas não sabe) seu fadário

De negra joia, aziaga e prisioneira.

Vão e vem aos milhares, em desfiles

Infindáveis, mas é só uma e eterna

A pantera fatal em sua caverna

Traça a reta que um eterno Aquiles

Traça no sonho que sonhou o grego.

Não sabe que há prados e montanhas

De cervos cujos trêmulas entranhas

Deleitariam seu apetite cego.

Em vão é vário o orbe. A jornada

Que cumpre cada qual já foi fixada.

 

Tradução: Josely Vianna Baptista