Amigos do Fingidor

terça-feira, 9 de abril de 2024

De verdade?


Pedro Lucas Lindoso

 

Segunda-feira passada, li um edital de licitação para restauro total do Centro Histórico de Manaus. O projeto apresentado no edital representa um antigo desejo dos amazonenses.

Terá, indiscutivelmente, grandioso apelo turístico. Visa transformar o Centro de Manaus. Um retorno a arquitetura predominante no auge do Ciclo da Borracha. Uma volta à Belle Époque.

O ponto de partida é o Largo de São Sebastião. Descendo a Rua Costa Azevedo, indo pela Rui Barbosa até a Praça da Polícia. Incluindo o antigo “miolo da Zona Franca” até o Hotel Amazonas. Subindo à esquerda até os Remédios e descendo novamente por toda a área da Joaquim Nabuco e adjacências. Na parte oeste, o projeto partiria desde a Ilha de São Vicente, inclusive o Porto, a Catedral e a Eduardo Ribeiro.  Em princípio, todo o Centro Histórico ficaria no mesmo padrão do entorno do Largo.

Fiz uma visita a Curaçao. Uma bela ilha caribenha de colonização holandesa.  A arquitetura da ilha é típica dos países baixos. Predominam prédios coloniais holandeses. Todos restaurados e bem conservados. A gente sempre se pergunta: por que Manaus não é assim?

Existem experiências de restauro de grandes áreas urbanas no Brasil. Me veio à mente o grande restauro do Pelourinho em Salvador, na Bahia. Uma amiga arquiteta brasiliense me disse que o projeto original foi da  arquiteta italiana Lina Bo Bardi. A princípio, o projeto procurava preservar as relações sociais e a cultura ali existentes.

As coisas não saíram exatamente como a famosa arquiteta desejara. Todavia, nos anos de 1990 se iniciou um projeto de intervenção chamado "Programa de Recuperação do Centro Histórico de Salvador".  O projeto direcionava o Pelourinho para o seu potencial turístico e econômico.

Muitos acreditam que o centro histórico de Manaus tenha o mesmo potencial voltado para o turismo, a famosa indústria sem chaminé. Os estudiosos apontam erros e acertos no projeto de Salvador. Que Manaus possa aproveitar-se dos acertos e evitar os erros. Houve desapropriações, investimentos de diversas fontes e claro, muita polêmica. O fato é que a área ficou uma beleza e de grande apelo turístico.

E recebeu prêmios. A restauração do centro histórico do Pelourinho, recebeu, há alguns anos, o Prêmio Internacional Reina Sofía de Conservação e Restauração do Patrimônio Cultural, concedido pelo Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha. O prêmio valoriza projetos para a conservação e a restauração do patrimônio histórico e cultural.

O restauro do centro de Manaus prevê reconstrução de prédios e fachadas já destruídas, como a do Cine Guarany. Prédios na antiga Berlim Oriental foram recentemente reconstruídos com as fachadas de antes da guerra. Tudo é possível com a moderna tecnologia, fotos e etc.

Ah, segunda-feira passada foi primeiro de abril. O tal edital de restauro do nosso centro é uma pegadinha de dia da mentira. Será que um dia sai? De verdade?