Amigos do Fingidor

quinta-feira, 3 de abril de 2025

A poesia é necessária?

  

A baforada do vazio

(fragmento de O drone de Yebá Buró)

Thiago Roney

 

Antes o mundo não existia

resistia o puro silêncio alado,

sempre incalculável,

do despovoado.

 

Antes o eu das coisas não existia

subsistia a poesia despida de fome,

sempre incessante,

do sem nome.

 

Antes o tempo não existia

persistia o instante bruto e contido,

sempre imóvel,

do infinito.

 

Antes o verbo não existia

insistia a voz muda e desmedida,

sempre ininterrupta,

do não-nascido.

 

Antes a forma não existia

remanescia o conjunto aliviado

sempre indizível,

do desabitado.