Amigos do Fingidor

quinta-feira, 24 de abril de 2025

A poesia é necessária?

 

A sombra

Isaac Melo

 

sobre coisas e gentes,

o seu sangue escuro,

a noite derrama

 

corta o vazio, o silêncio da palavra

úmido de corpos, incógnitas

 

um cachorro louco

ladra no vazio das almas

é noite, os olhos grávidos

dão luz às sombras

que habitam a nossa madrugada

 

das ontológicas mãos escapam

as vísceras das horas

nas entranhas, deuses e demônios,

plasmam o todo aos pedaços

 

catar sentido nos escombros

perdidos universos paralelos,

luta, destemida e vã, trava

contra toda penumbra

até, por fim, solitário, sucumbir

abraçado à própria sombra