Zemaria Pinto
O
professor José Dantas Cyrino Junior, que se revelou poeta em plena maturidade –
contrariando a regra de que todos cometemos poesia apenas enquanto não temos a
autocrítica firmada –, surpreende-nos de novo com um livro que, à parte a
poesia latente, vai do trocadilho com intenção meramente humorística até a
reflexão mais profunda.
Apesar
do subtítulo – frases que não pretendem
chegar a máximas –, Cyrino brinca com as palavras, ou melhor, com os
fonemas, descobrindo novos sons e revelando novos sentidos, a partir mesmo dos
títulos de cada uma das quatro partes em que o livro se divide. A referência a
Millôr Fernandes no texto de abertura não é gratuita, mas cabe aqui lembrar
outros frasistas notáveis, como Nelson Rodrigues e os irlandeses Oscar Wilde e
Bernard Shaw, este o preferido de Millôr. Na filosofia, os pensamentos de Pascal
e a filosofia a marteladas de Nietzsche destacam-se. Há uma tradição, portanto;
e como em toda tradição, há também um cânone.
Aliterações,
assonâncias, rimas internas – Cyrino lança mão de recursos típicos do arcabouço
poético para moldar suas frases, dando-lhes um ritmo natural, que torna a
leitura ainda mais prazerosa. Vejamos alguns exemplos ao léu:
O poeta é uma pessoa que
destoa.
Férias são ócios do
ofício.
O ovo é o anúncio do
novo.
A
primeira lembra-me um verso de Jorge Tufic – Poeta não se define: é um ser à parte. A pessoa que destoa não
seria outra senão Pessoa. A segunda brinca com a negatividade da expressão
popular “ossos do ofício”, tornando-a positiva, a partir da proximidade fônica
ossos/ócios, bem como da relação ócio/ofício. A terceira é um achado de
linguagem e de imagem: além das aliterações e assonâncias, constata-se que, de
fato, um ovo, em si mesmo, é uma coisa que anuncia outra. Ou, como diria
McLuhan, é a um só tempo meio e mensagem...
Mas
há também as frases que dispensam a técnica rítmico-musical, bastando-se em si
mesmas, como nesta que resume o espírito do livro:
Banal é tudo aquilo que
não me faz pensar.
O
leitor mais atento terá muito a pensar lendo este livro, escrito por alguém que
não tem pudor em despir-se das máscaras cotidianas, revelando-se por inteiro:
Eu tenho sido a maior
criança que um adulto pode ser.
Tenha
uma alegre e prazerosa leitura.
Apresentação do livro Mínimas – frases que não pretendem chegar a máximas (Manaus: Valer, 2014).