Amigos do Fingidor

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

A poesia é necessária?

 

Vozes, versos e metamorfoses

Tainá Vieira

 

Eu vim de vários ventres,

andei por diferentes terras,

metamorfoseando-me

a cada estação.

 

E quando outra de mim nasce

modifica-se o corpo e a face

mas permanece o mesmo coração.

 

Já fui árvore, casa e ilha,

ontem eu era minha mãe,

hoje sou minha filha.

 

Habito os mares, as matas,

as esquinas e os altares,

sou santa, viro fera,

cirandeio, canto, rezo

acendo o fogo, carrego

a tocha e corro o mundo,

vou da minha tribo

– até o centro da Terra.

 

Estou onde eu quiser,

vivo do jeito que eu quiser,

se me perco, me acho no caos

que construí em mim,

ou nos sonhos que sonham

nas celas, nas cozinhas,

nas ruas, nos leitos e matagais.

 

Me refaço nos pedaços

que encontro espalhados por aí

ou nas cinzas voadas para longe

atravessando os séculos de dores

e clamores, desde as primeiras

palavras das minhas avós.

 

Sou Marias, Sônias e Clarices,

Capitus, Evas, Medeias,

Iracemas e Conoris.

Meu ser milenar é feito

da seiva vermelha extinta,

do sangue miscigenado

e da história que nunca foi contada.