Vozes, versos e metamorfoses
Tainá Vieira
Eu
vim de vários ventres,
andei
por diferentes terras,
metamorfoseando-me
a
cada estação.
E
quando outra de mim nasce
modifica-se
o corpo e a face
mas
permanece o mesmo coração.
Já
fui árvore, casa e ilha,
ontem
eu era minha mãe,
hoje
sou minha filha.
Habito
os mares, as matas,
as
esquinas e os altares,
sou
santa, viro fera,
cirandeio,
canto, rezo
acendo
o fogo, carrego
a
tocha e corro o mundo,
vou
da minha tribo
–
até o centro da Terra.
Estou
onde eu quiser,
vivo
do jeito que eu quiser,
se
me perco, me acho no caos
que
construí em mim,
ou
nos sonhos que sonham
nas
celas, nas cozinhas,
nas
ruas, nos leitos e matagais.
Me
refaço nos pedaços
que
encontro espalhados por aí
ou
nas cinzas voadas para longe
atravessando
os séculos de dores
e
clamores, desde as primeiras
palavras
das minhas avós.
Sou
Marias, Sônias e Clarices,
Capitus,
Evas, Medeias,
Iracemas
e Conoris.
Meu
ser milenar é feito
da
seiva vermelha extinta,
do
sangue miscigenado
e
da história que nunca foi contada.