Com a palestra "Sobre a arte da navegação – considerações em torno da poesia de Luiz Bacellar", uma leitura do livro Frauta de barro, o escritor Marcos Frederico Krüger, com uma palavra de saudade ao amigo Paulo Graça, que falecera 10 meses antes, inaugurou a Quarta Literária, a 14 de abril de 1999. O objetivo de um pequeno grupo de pessoas interessadas em discutir literatura, lideradas pelo escritor Tenório Telles e pela poetisa Aurolina Araújo de Castro, era, principalmente, atrair mais leitores e transformar aquele evento num verdadeiro fórum de discussão sobre arte.
Foram mais de 100 palestras ao longo destes 10 anos. Além de Marcos Frederico e Tenório Telles, foram tantos os palestrantes, que relembrar todos seria impossível, sem que se fizesse uma lista por demais extensa. Mas alguns foram recorrentes, como Zemaria Pinto, Cláudio Fonseca, Allison Leão, Renan Freitas Pinto e Jorge Bandeira. A lista de estudados é igualmente extensa e bastante eclética: de Luiz Bacellar (ele também palestrante) a Allen Ginsberg, de Astrid Cabral a García Márquez, de Violeta Branca a Franz Kafka. Além de autores, muitas vezes a palestra versou sobre determinado tema, como "Poesia e Utopia", "Poesia Erótica e Pornográfica", "Poesia e Música", "O índio na literatura brasileira" etc. O Clube da Madrugada, por ocasião do seu cinqüentenário de fundação, teve o ano de 2004 inteiramente dedicado ao estudo de seus autores mais representativos. Muitos desses encontros nos fins de tarde das quartas-feiras prestaram homenagens a grandes nomes da literatura, como a comemoração dos 80 anos dos poetas Thiago de Mello e Luiz Bacellar.
O Clube Literário do Amazonas – CLAM, formado por jovens escritores hoje na faixa dos 20/30 anos, surgiu de dentro da Quarta Literária. Nelson Castro, José Farias, Carlos Thiago, Rayder Coelho, Gracinete Felinto, Pollyanna Furtado, Miguel de Souza, Edvan Rafael, Eylan Lins, Michele Pacheco, Afonsina Oliveira, Álvaro Smont, Dâmea Mourão, Sheila Nunes, Rafael Marques e Gadi, além dos artistas plásticos Bruna Marinho e Paulo Olivença, encontraram-se na Quarta e passaram a desenvolver seus trabalhos sob o "patrocínio" da Valer. Aliás, o livreiro e editor Isaac Maciel é outro nome que não pode ser esquecido – ele que nunca palestrou, mas é sempre um ouvinte atento, quando seus afazeres lhe permitem participar das Quartas. Assim é que a comemoração dos 10 anos da Quarta Literária terá um ingrediente extra: o lançamento da antologia A Quinta Estação, a primeira do pessoal do CLAM, sob os auspícios da Valer.
Funcionando sempre no mesmo local – altos da Livraria Valer – e mesmo horário, 18h30min, toda primeira quarta-feira do mês, a Quarta Literária acompanhou a modernização tecnológica: das palestras na base unicamente da "garganta" e do flip-chart, até o PowerPoint e o notebook, procurou-se preservar um padrão de qualidade, que hoje é parâmetro para as diversas faculdades de Letras que funcionam na cidade. Afinal, seus alunos (e professores) são freqüentadores (e palestrantes) das Quartas. E se um dia se disse que as Quartas eram um foco de resistência da cultura amazonense, hoje podemos afirmar que as Quartas, na verdade, são a vanguarda dessa cultura.
Nos anos iniciais, não havia interrupção nas atividades, com a Quarta Literária funcionando de janeiro a dezembro, mas, nos últimos anos, a praxe é o recesso de janeiro e fevereiro. Assim, convencionou-se contar o tempo por anos de atividades. 2008 é exatamente o 10º ano de atividades da Quarta Literária. Por isso, neste 3 de dezembro, fechando 2008, não haverá palestras, mas um sarau, onde os velhos freqüentadores se unirão aos jovens, num congraçamento mútuo, numa festa da literatura e das artes. O evento terá em sua programação depoimentos dos mais antigos freqüentadores, recital de Dori Carvalho e poetas do CLAM, e uma parte musical com Candinho e Inês, Célio Cruz, Mauri Marques e Raquel Brasil, Torrinho, Celdo Braga, Nelly Miranda, Ellen Mendonça e Manoel Passos.