Tudo muda, tudo passa, tudo está em movimento. Esta lei da mãe natureza também se aplica à literatura – até porque esta é parte daquela, como as florestas e os rios, as cidades e os campos, o sol e a chuva. Quando eu tinha 20 e poucos anos, achava que o pessoal do Clube da Madrugada era eterno. Aos poucos, convivendo com eles, dei-me conta de que, infelizmente, mais cedo ou mais tarde, começariam a partir, e era preciso que a minha geração estivesse apta a segurar o bastão, se me permitem a metáfora esportiva. A vida é mesmo uma corrida de revezamento. Arthur Engrácio, Antísthenes Pinto, Alcides Werk – mestres e amigos que reverencio em memória.
Presenciamos agora um terceiro momento, em que uma nova geração, formada por jovens talentosos, desabrocha para o mundo das artes. Organizados, uniram-se em torno de um ideal, apropriadamente nomeado CLAM – reverberando a idéia de família, de irmandade. Coisa que os da minha idade não tiveram pique para fazer. Estávamos, talvez, sufocados por aquela massa de talentos do Clube da Madrugada. Já ouvi do amigo Tenório Telles que nós somos ponte, crescemos sob o estigma da passagem. Por força do movimento incessante do universo, um novo ciclo se inicia, com uma nova geração, que, lá na frente, haverá de tomar o bastão. Travessia.
Costumo dizer, nas minhas palestras, que é muito fácil escrever; basta combinar, em proporções equilibradas, três elementos essenciais: conhecimento, habilidade e talento. O conhecimento é adquirido pelas leituras – infinitas leituras. Quanto mais lemos mais nos damos conta do quão pouco conhecemos. Digo isso não para desestimular, mas para enfatizar que o conhecimento é acessível a todos, especialmente nesta era dominada pela Informação. E se é impossível conhecer tudo – uma vida não seria suficiente para tanto –, faz-se imperativo conhecer os clássicos, a literatura brasileira e, por que não?, a literatura amazonense – sem perder de vista os contemporâneos.
No quesito habilidade as coisas se simplificam: é necessário estudar a Arte Poética (ainda que seja pra propor o seu fim) e dominar a técnica (palavra que em grego tem a mesma raiz etimológica da palavra poesia); é indispensável o domínio da técnica para desenvolver o texto literário – em prosa ou poesia. Mas aqui o universo cabe, se não numa casca de noz, num ouriço de castanha-do-pará.
Sobre talento, não preciso dizer nada. Os jovens componentes do CLAM já vêm, há alguns anos, dando demonstrações de que talento não lhes falta.
É a velha lei que se cumpre: tudo muda, tudo passa, tudo está em movimento...
(Zemaria Pinto, na orelha de A Quinta Estação)