Amigos do Fingidor

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Produção de texto poético (uma introdução) – VI

Zemaria Pinto


27 – Expressa inicialmente por meio do canto, a poesia lírica, escrita para ser lida, mas, eventualmente, também cantada, tem como características mais imediatamente reconhecíveis as seguintes:

  • Expressão de um eu lírico, espécie de narrador do poema, que não pode jamais confundir-se com o eu biográfico do autor.
  • Uso do verso, que é, originalmente, uma unidade melódica, com padrão métrico e acentos rítmicos.
  • Ainda que o autor utilize o “verso livre”, este deve ter, se não efeitos melódicos e sonoros, pelo menos, unidade de sentido com o resto do poema.
  • Não à toa, Manuel Bandeira dizia que o verso livre era mais difícil de elaborar que o verso convencional.
  • Linguagem marcadamente condensada, onde o máximo de expressão deve ser obtido como o mínimo de recursos.
  • Daí alguns teóricos confundirem o poema lírico com “poema de pequena extensão”, o que, como tudo no universo, já o sabemos, é relativo.
  • Imagens inusitadas, fora do contexto ordinário da fala cotidiana.
  • Esse procedimento empresta à linguagem um caráter plurissignificativo, pois cada leitor poderá interpretar aquelas imagens de acordo com sua capacidade individual de apreensão do texto.
  • Repetição de fonemas, desvio das normas gramaticais, alogicidade, antidiscursividade e valorização do espaço como componente textual.
28 – Podemos simplificar reproduzindo a idéia de Ezra Pound de que o poema tem três raízes possíveis: a fanopéia, a melopéia e a logopéia. A fanopéia é a representação das imagens no poema. A logopéia reflete a musicalidade do poema. E a logopéia é “a dança do intelecto entre as palavras.”

29 – Num diagrama que representasse a decomposição possível de um poema, poderíamos ter a visão abaixo, onde o poema se decompõe em linguagem e idéias e a linguagem, em imagens e musicalidade.
Diagrama da decomposição do poema, a partir da concepção de Ezra Pound.
Continuamos.