Jorge Tufic
Neste belíssimo Pelas ruas do meu canto, livro de autoria do paraibano Gil Hollanda, você não apenas lê, mas vê poesia. A gente chega à inusitada conclusão de que o poeta, nele, consegue harmonizar as duas vertentes primordiais do movimento concretista dos anos 50, no Brasil, ou seja: a de São Paulo, com os ortodoxos ¨criadores¨da teoria, e a do Rio de Janeiro, que tende mais para o lado emotivo da palavra, ao oposto de sua total substituição pelos signos ou pelo diagrama chinês.
O autor desta coletânea de poemas urbanos vai muito mais longe, acoplando em seu modo singular as experiências, inclusive, de Wladimir Dias Pino, quando se vale da fotografia que passa a servir de moldura ou conteúdo semântico da paisagem, histórica, ausente ou natural, mas sempre de João Pessoa, onde reside e trabalha, caminha e sorri, embora, sendo ele, Gil, um conceituado professor de biologia, saiba dos danos que o progresso tem causado ao nosso planeta.
O lançamento de Pelas ruas do meu canto ocorrera no Bar In Toca (em frente ao antigo Hotel Globo, no Centro Histórico de João Pessoa). Uma noite que podemos dizer que foi memorável, com auditório lotado, no qual foram encenados poemas, com apresentação de banda musical, discursos e muita alegria. No dia seguinte ao evento, O NORTE, jornal da cidade, além de noticiar o fato, comenta: “Em Pelas ruas do meu canto o leitor vai encontrar imagens recorrentes da urbe parahibana. Algumas tradicionais, como o Ponto de Cem Réis e os parques Sólon de Lucena (Lagoa) e Arruda Câmara (Bica). Outras imagens remetem a lugares pouco retratados e quase nunca cantados em versos, como os casos do Edifício ‘18 Andares’, o vetusto casarão de azulejos, a feira de Jaguaribe ou ainda o cemitério com a sua fábrica de cimento.”
Trata-se do segundo livro de poesia de Gil Hollanda. Que precisa e deve ser divulgado, lido e até adotado nos cursos de letras, porquanto útil como informação didática, exemplo de mestria e modelo de inspiração: tornando-a possível, hoje, mesmo que vivamos um tempo pregnado de malos pressentimentos, violência e extrema crueldade. Do qual, no entanto, se eleva o canto do poeta.