Moysés Mota
A Guerra dos Cabanos (1835-1840) foi um movimento popular que precisa ainda ser muito estudado, revelado, explicado e compreendido não só para as atuais gerações, mas para a Academia e historiadores.
Em uma das minhas muitas idas a Maués, surpreso, fui levado a visitar local que serviu de forte de resistência dos “cabanos”. Na minha abissal ignorância, até então, desconhecia que aquele significativo movimento político que gerou uma revolução conduzida por negros, índios e mestiços (principalmente as populações ribeirinhas) tivesse se estendido à “Terra do Guaraná” e lá “fincado” fortes.
Como na época eu morava em Recife, e tinha por hábito fazer “escala” em Belém para fazer compras no Ver-o-Peso e almoçar peixe com camarão na chapa, no Kioto, fiz as visitas de praxes ao Emilio Goeldi e às livrarias locais e, agora curioso mais ainda sobre os cabanos, comprei as obras de Pasquale De Paolo, principal estudioso do tema.
Passado um bom tempo, só voltei a trocar informações objetivas sobre a cabanagem com o meu amigo Joaquim Melo (o do tacacá, mesmo).
Para minha surpresa, no meu reencontro com o amigo Ademar Gruber, este tornou-se escritor e presenteia-me com a obra (dentre outras) Guerra da Cabanagem – heróis esquecidos.
O livro é intrigante, revelador, conduzindo o leitor em uma canoa rios da floresta adentro, onde ele conhecerá Manuel Marques – o tuxaua dos tuxauas, o Cônego João Batista Campos, Crispim Leão, o Comandante José Coelho de Miranda Leão, o sanguinário Ambrósio Aires e outros personagens que escreveram com sangue, bravura, sonhos, traições e ideais aquela que foi a maior tentativa de autonomia que já tiveram os habitantes da floresta.
Os pecados na edição e revisão não comprometem seu conteúdo e seu principal objetivo: chamar a atenção “... para a história da nossa gente contada pelos vencidos”, como muito bem o autor frisou-me em sua dedicatória.
Ademar Gruber nesse livro intercala-se ora historiador ora romancista. E o romancista surpreende, mostrando-se promissor e uma agradável revelação: “Um remo toca a água escura silenciosamente. Vultos cansados espreitam sobre a borda lateral das canoas. Um cachorro late na margem. Alguém tosse no silêncio da noite. O remador levanta o remo. Respirações são suspensas, nenhum som se escuta, apenas o vento chacoalha a palha que cobre a parte frontal das canoas.”
A partir daqui, é melhor ler o livro.