Amigos do Fingidor

terça-feira, 28 de junho de 2011

Para entender o conto

A obra se alinha a clássicos do gênero e aponta
para novos caminhos a serem percorridos.
Allan Gomes*

Autor condensa nesse ensaio grande parte da produção amazonense


O novo livro do escritor Zemaria Pinto, lançado em março, O conto no Amazonas visa, de forma enxuta, condensar o maior número de informações e referências sobre esse gênero na produção literária do Estado. O livro nasce destinado a ser um guia de viagem que ajudará leitores a chegar ao mundo da palavra e da criação literária. Desde a apresentação o autor esclarece que não é tarefa fácil, pela natureza controversa do gênero, e cita Machado de Assis, na apresentação de seus Papéis avulsos (1882): “Quanto ao gênero deles, não sei que diga que não seja inútil”.

É assim, invocando a humildade de Machado de Assis, que Zemaria traça um panorama sobre a produção contística do Amazonas com grande ênfase no período do Clube da Madrugada. Não se pode negar o diálogo que esta antologia estabelece com outras publicadas anteriormente (como a Antologia do Conto do Amazonas, organizada por Marcos Frederico Krüger e Tenório Telles, e a Antologia do novo conto amazonense, de Arthur Engrácio) e que, em conjunto, acabam formando um panorama abrangente das publicações do gênero.

Muitos contos


O conto no Amazonas é um estudo teórico e prático sobre essa arte narrativa. O diferencial está no fato de o autor utilizar como referência analítica os escritores representativos da produção contística regional. O texto se constrói a partir de um breve estudo introdutório em que situa o leitor em relação à história do conto, seus conceitos e os mais destacados criadores. O autor apresenta um guia de leitura e, ao mesmo tempo, um pequeno manual de iniciação não só para leitores, mas para os que desejarem se aventurar nessa arte.

Inicia seu percurso com a narrativa mítica “Baíra e sua namorada”, originária da mitologia dos índios Cauaiua-Parintintin. Volta-se para textos consolidados pela tradição literária, com a apresentação e a análise de obras organizadas entre Pré-Madrugada, Clube da Madrugada e Pós-Madrugada.

A capacidade de síntese do texto de Zemaria não deixa de apontar para a escrita contemporânea, sob influência da Internet, e abre espaço para nos indagarmos o porquê de parte dessa produção originária da rede ainda não ter encontrado espaço em antologias.

(*) Publicado no jornal A Crítica, de 28.06.2011.