Amigos do Fingidor

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O aborto e o profano

João Bosco Botelho


O juramento de Hipócrates, elaborado no século IV a.C., mostra a clara tendência antiaborto dos médicos gregos: “Não darei venenos mortais a ninguém, mesmo que seja instado, nem darei a ninguém tal conselho e, igualmente, não darei às mulheres pessário para provo¬car aborto”.

Por outro lado, na mesma época, houve certa indulgência em Aristóteles (Política, VII, 4) que aconselhava a interrupção da gravidez frente às necessidades médicas, desde que o embrião não tivesse recebido o sentimento e a vida.

Após mais de dois mil anos de discussões, ora nas relações com o sagrado, ora como o profano das relações sociais, a estimativa do número de abortos provocados por ano no mundo ultrapassou, em 1989, 40 milhões casos. Dez por cento desse total, 4 milhões, foram feitos no Brasil, causando a morte de trezentas mil mulheres.

A tendência pró aborto iniciada na Europa nos anos setenta é hoje mundial. Nos últimos quinze anos, pelo menos vinte países modificaram as suas leis. Na Itália, o mais católico dos países da Europa, a legalização do aborto provocou muito conflito. O plebiscito realizado no papado de João Paulo II evidenciou que 70% dos italianos aprovaram a lei.

Na França, a permissão legal para o aborto alcança os embriões de 13 semanas. Contudo, a entrevista obrigatória com equipe especializada, que antecede o ato médico nos hospitais públicos, e o apoio governamental no sustento futuro da criança, consegue reverter a decisão em mais da metade dos casos.

A análise dos dados estatísticos continua mantendo as seguintes questões:

1. As proibições profanas e sagradas não modificaram, em quase dois mil anos, o comportamento das mulheres quando decididas a utilizar o aborto como método ¬anticoncepcio-nal;

2. Nas sociedades com problemas de superpopulação, ocorre o estímulo público e institucional ao aborto como forma de controle populacional.