João Bosco Botelho
Não há como negar que os caminhos da Medicina na busca da arqueologia da doença levam ao átomo. Como continuidade, a nova abordagem alcançará o caos: a instabilidade persistente.
O caos está presente em toda natureza e pode se manifestar quando um objeto é submetido ao efeito de mais de uma força gerando situações de difícil (ou impossível) previsibilidade. Os exemplos mais banais vão desde a tentativa de prever o próximo movimento de uma folha que corre livre ao sabor da corrente nas águas de um rio, uma bactéria que sobrevive na corrente sanguínea e até as previsões climáticas. Nesses exemplos, não é possível saber com precisão matemática o que acontecerá à folha, à bactéria e se terá ou não tempestade, em certa área geográfica, mesmo utilizando os mais sofisticados e complexos sistemas de cálculos.
A maior dificuldade reside em separar a supremacia do caos à aparente estabilidade e ritmo da natureza. Sob esse ritmo da contínua repetição, o homem acumulou o conhecimento. Do mesmo modo, construiu a compreensão estática da saúde e da doença, onde parecia existir um divisor de águas entre o homem doente e o sadio, sendo aquele representado pela negação e este pela afirmação da vida.
Ao demonstrar a instabilidade, mesmo em sistemas simples, o matemático francês Henri Poincaré (1854 1912) inaugurou as primeiras publicações em torno do caos. A atual compreensão dos sistemas instáveis regendo o conjunto que mantém a vida no planeta é fantástica e preocupante ao mesmo tempo. É fantástica porque nos fez mergulhar na incerteza angustiante; e preocupante porque colocou por terra as certezas acabadas.
A futura abordagem da saúde e da doença, enquanto abstração nominada pelo homem, será compreendida como fenômeno dinâmico e mutante no tempo e capaz de ser estudada fora do espaço euclidiano. Haverá tempo em que a Medicina perguntará: em qual espaço você deseja estudar o câncer?
Sendo partes do mesmo todo, é possível que a caoslogia contribuirá também para a melhor compreensão dos sistemas vivos, sob o prisma da Termodinâmica. Hoje continua sendo muito difícil entender o homem, como exemplo de sistema aberto, consegue manter a vida com rigorosa ordem interna e baixa entropia.
Parece lógico supor que a saúde e a doença não existem separadamente; ao contrário, estão indissoluvelmente unidas no caos.