Zemaria Pinto
Dafne
Quando contei a Dafne
a origem de seu nome ela entendeu porque eu busquei me aproximar dela. Era como
se eu a procurasse há muito tempo, e ela, perdida, esperasse por esse
reconhecimento. Dafne era um modelo de ninfa renascentista: alta, branca, loura
e olhos azuis de infinita tristeza, sempre escondidos atrás de severos óculos
escuros. Eu, um velho fauno, desaparecia perto dela. Quando começamos a sair,
ela gentilmente aboliu os saltos altos, o que nos deixava uma diferença de não
mais que uns dez centímetros. Foram apenas alguns meses, até que ela resolvesse
reatar com o marido – senhor, talvez, de uma daquelas ilhas que fundavam a
Grécia Antiga. A sofrida e meiga Dafne ainda hoje me visita a lembrança, com
seu corpo rijo, suas proporções perfeitas e sua mítica melancolia.