Pedro Lucas Lindoso
Rocharleston Wylson
nasceu no rio Juruá. Aos dezesseis anos veio para Manaus estudar. Foi morar na
casa de uma tia, em
Petrópolis. Fez um curso técnico e conseguiu empregar-se numa
fábrica do Distrito Industrial.
Depois do casamento com Katyanne, Rocharleston
foi morar numa invasão na Zona Norte de Manaus. Conseguiu fazer uma casinha bem
chibata, como diz o caboclo, na Rua da Penetração, que depois virou Rua Número
Um. Então, um líder comunitário resolveu inovar, e trocou os nomes das ruas por
letras. A Rua Número Um ficou Rua A, para não confundir com os números das
casas.
O tal líder, suplente de vereador, esteve por
um ano na Câmara Municipal. Seu feito mais importante foi mudar, pela quarta
vez, o nome da rua onde mora Rocharleston e Katyanne. Agora a rua tinha o
pomposo nome de sua genitora, Dona fulana de tal.
É comum trocar-se
nomes de ruas em Manaus. O
hábito é antigo. A Rua Marechal Deodoro já foi Rua das Flores, em priscas eras.
Tornou-se Rua do Imperador. Com o advento da República, Marechal Deodoro.
Getulio foi homenageado trocando-se a Rua 13 de maio por Avenida Getúlio
Vargas. O problema é que nem sempre
avisam aos carteiros e a população teima em continuar chamando pelo nome
antigo. Há muita carta extraviada.
Depois de ser
promovido a chefe de setor, Rocharleston pôde comprar, em 60 meses, um carro
popular. O carnê do banco, inevitavelmente, extraviou-se. Tentou comunicar-se
com a financeira, mas não obteve sucesso. Iria à agência, assim que tivesse uma
folga.
Feriado em Manaus. Dia do
aniversário da Cidade. Rocharleston dormia o sono dos justos quando foi
acordado, às 06:05 horas da manhã. Tomou um susto. Lembrou-se de sua mãe, já
idosa, que mora em
Benjamim Constant , um dos municípios mais distantes de
Manaus.
Mas era o “call
Center” do banco. Rocharleston, educadamente, reclamou com a operadora,
dizendo-lhe que o fuso de Manaus, no horário de verão, era de duas horas em
relação ao sudeste.
A moça parecia não entender. E repetia:
– São oito horas aqui
em São Paulo ,
senhor.
E Rocharleston
respondia:
– Eu sei, mas aqui em
Manaus são seis da manhã.
E a moça continuava a
insistir que eram oito em são Paulo.
Rocharleston então perguntou se ela sabia o que é fuso
horário. A operadora simplesmente disse que não sabia. Rocharleston retrucou:
– Ora, a senhora não é obrigada a saber que
hoje é feriado em Manaus, mas é uma temeridade fazer-se uma cobrança, aliás
injusta, às seis horas da manhã. Vou explicar mais uma vez: No horário de
Verão, Manaus tem uma diferença, para menos, de duas horas. A senhora entendeu?
- A operadora então
perguntou. E Manaus fica no Brasil?
Rocharleston ficou
irado e respondeu-lhe:.
- Ninguém tem o
direito de fazer cobrança às seis horas da manhã, assustando as pessoas. Isso é
constrangimento. Vou processar o banco por danos morais. O fato é que a senhora
faltou muito às aulas de Geografia. A senhora é zero em Geografia.
– ...
– Tenha um bom dia.
E desligou.