Zemaria Pinto
Menina de olhos verdes
É um sonho recorrente:
estou em um palácio, no andar mais baixo; quando olho para cima, vejo, no ponto
mais alto, os olhos verdes da menina, em mim fixados. Essa cena se repetiu por
muitos meses – anos, talvez –, no pátio interior do Pedro II. Jamais trocamos
uma palavra. Sequer sorríamos. Apenas nos olhávamos. Seus olhos verdes incrustados na pele acobreada, cercados pelos cabelos negros à altura do
ombro, pareciam um enigma infinito. Hoje sei que ele vai durar apenas até o derradeiro
momento da minha consciência.