Pedro Lucas Lindoso
Era um sábado propício a ir
à praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Tia Idalina convalescia de mais uma cirurgia
plástica. A quinta ou sexta, talvez. Fui visitá-la. Idalina fazia as unhas e
arrumava o cabelo. Duas de suas sobrinhas estavam de visita e aproveitavam para
também fazer as unhas. Gentileza de tia Idalina.
– Isso aqui vira um salão
aos sábados. Disse ela. Essas meninas queridas vêm sempre me visitar. Nunca
fico sozinha.
Tia Idalina é sábia. E magnânima.
Também, pudera! Recebe seis contracheques, de fontes diversas. Professora
aposentada do estado, Idalina foi ainda bibliotecária de uma autarquia
federal. Seu falecido marido era
professor de uma universidade pública e engenheiro de uma estatal. E tem ainda
a do Exército. Seu pai era general reformado e serviu na Itália. Cinco fontes
generosas e ainda a “merreca do INSS”, a completar os maravilhosos rendimentos
mensais de Idalina.
Frequenta todas as reuniões
de associações de aposentados e sindicatos de onde é pensionista ou aposentada.
Leva sempre uma pastinha com todos os documentos. Vez por outra recebe uma
bolada extra. São indenizações trabalhistas. Há sempre parcelas de remuneração
pagas a menor, planos econômicos, verbas não pagas corretamente a aposentados.
– Esse pessoal dos
sindicatos e seus advogados são geniais, diz ela.
Assim tia Idalina ou faz
plástica ou uma grande viagem ao exterior, sempre que ganha uma grana extra da
Justiça.
Argumentei que a opção pela
plástica era por causa da alta do dólar. Mas ela disse que não e me contou,
desolada, porque resolveu fazer a sexta plástica. Estava no carro com
Antonieta, sua “best friend”, quando um motorista irritado com o trânsito
gritou:
– Suas velhas vadias.
No que ela me confessou:
– Juro que não me ofendi com
o palavrão, “vadia”. Mas me chamar de velha?... Um absurdo!
Concordei com titia. Uma
falta de respeito e de educação. Idalina não confessa a sua verdadeira idade.
Nem sob tortura.