Marco Adolfs
– Até mais ver, senhor vereador – respondi, educadamente.
Quando aquele homem saiu do botequim, minha vontade era não encontrá-lo nunca mais pela frente. Por algum motivo não havia ido muito com seus modos e com sua figura afetada. E além do mais, eu mentira bastante para continuar me aproximando daquele sujeito. Poderia despertar desconfianças.
O dono da bodega havia colocado uns bancos toscos de madeira do lado de fora de seu estabelecimento e, sob a sombra de uma árvore frondosa, fiquei bebericando e observando o movimento das imediações. Na verdade, a única coisa que parecia se movimentar naquela cidade era o urubu. Uma profusão deles circulava no céu azul. E ao longe, o imenso rio, que passava caudaloso e enigmático. Uma coisa que também chamou minha atenção, naquele povo de tapuias circunspectos, foi a indumentária totalmente branca dos homens contrastando com o traje das mulheres, com suas camisas todas cheias de bordados e as saias em tecido xadrez. Estava absorto nessas imagens e em pensamentos sobre aquele lugar quando, às minhas costas, uma voz grave levou-me a prestar atenção no que dizia.
– O senhor precisa ver a festança do boi que vai passar aqui em frente, à noitinha.
– Hã!? Que festança? – perguntei de relance e percebendo que a voz pertencia ao dono da bodega.
– A comemoração ao santo do mês – explicou o homem.
– Santo?
– É! São João!
– Ah! Sim.
– Hoje à noite eles vão passar bem aqui em frente.
(Continua na próxima terça-feira)