Amigos do Fingidor

domingo, 15 de agosto de 2010

O reencontro

Xico Gruber


Final de tarde do Domingo. De mãos dadas, andamos em direção ao Mercado Municipal. Florianópolis, ao final do dia, é linda. De onde estava, avistava as cores da Ponte Hercílio Luz começaando a iluminar a noite.

Olho para as mesas espalhadas nas calçadas e a vejo. Empalideço. Meu coração tem uma parada repentina. Tremo. Minha esposa percebe algo diferente e pergunta:

– O que foi? Estás Bem? O que aconteceu?

Tento falar, mas minha voz está embargada. Pigarreio. Respiro fundo e consigo responder:

– Quanto tempo. Trinta anos e volto a vê-la...

– Ver quem? Do que você está falando? – Pergunta-me ela com um ar desconfiado.

Ela está linda. O tempo foi justo, a vida não. Ela conversa com um amigo, ainda não me viu. Nova respirada e, refeito, respondo:

– A cidade. Eu não me lembrava o quando era bonita neste horário. Olha lá o pessoal! – Emendo rapidamente e aponto para uma mesa.

Nos voltamos. Aceno e somos notados. Chegamos mais perto, João se levanta, Madalena também, os outros apenas observam.

Cumprimento João, que me abraça. Minha esposa fica um passo atrás, embaraçada. Volto-me, e antes de me dirigir á Madalena, digo:

– Ei gente, esta é a minha esposa.

Todos a saúdam. Dou um passo desajeitado. Pego na mão de Madalena. Um leve tremor percorre nossos corpos. Sinto a sinergia. Olho em seus olhos, ela os abaixa. Levo meu rosto para perto do dela para os beijinhos de saudação. Ambos estamos titubeando. Nervosos, desconfiados. Seu perfume é o mesmo e me inebria. Um leve toque e voltamos no tempo.

João me cutuca, dizendo alegremente:

– Ei! Tá bom, tá bom. Vocês dois parecem namorados que não se vêem há muito tempo...

Parece saber que é isto que ela e eu estamos sentindo. Rimos nervosamente. Nos olhamos. Milhões de palavras estão nesta troca de olhares. Nos acalmamos. Sentamos. A vida passa num piscar de olhos. O coração volta ao toque normal. Estamos felizes por nos vermos mais uma vez. Pode até ser a última... Valeu a pena o reencontro. Nada mais nos interessa. Somos dois adolescentes cinquentões que a vida separou. Construímos famílias e vivemos momentos distintos, distantes, separadamente. Mas, lá no fundo, cada um de nós esperava este reencontro. Passamos nossa vida a limpo. Rimos alegremente de momentos passados. Choramos os momentos difíceis, de rumos diferentes, e ao final, na despedida, a certeza de que, mesmo separados, nossas almas sempre estiveram juntas. É muito bom o sentimento do amor, mesmo que interrompido. Na viagem de volta venho mais leve. O coração mais solto. Uma saudade menor. Valeu a pena! Ufa! Que bom.