Jorge Tufic
Poemas feitos para dizer, ou escritos para ficar, a reflexão e a palavra desbravam, neles, o caos do interdito e a turbulência do poliedro abissal do universo, deslumbrando-se, no entanto, diante da metáfora (ou metaphora), que logo abandona o casulo da lógica formalista pelo toque da poesia. O modo coloquial disfarça e humaniza os labirintos da especulação filosófica, o diálogo entre Fedra e Eupalinos, Safo e os rochedos de sua ilha se vão deixando incorporar numa linguagem de todos.
Cada um desses poemas, contudo, distingue-se dos outros pelo seu conteúdo, mantenha embora a leveza do arcabouço, sístole e diástole como no poema “o flautista”, tendo-se em mira, sobretudo, a unidade do bloco, sem qualquer fissura, decididamente pronto para tornar qualquer livro do gênero numa obra duradoura.
Na qualidade de leitor, porém, impressiona-me a determinação de “o ilusionista”, “Livro Mater”, “ad infinitum” e “Para sempre”, nada podendo contra os demais, donos de força própria, coesão, solidariedade.
Nelson Castro é um poeta que vigia e capta os movimentos do sonho, a claridade dos gestos humanos, o silêncio das rosas e a fúria contida do átomo. Não é possível comentar sua poesia de uma janela tão estreita como essa, donde se avista apenas uma nesga do imenso valor que ela transmite. O restante há de ser matéria de uma outra crítica, realmente especializada.
Se falo alguma coisa é simplesmente um testemunho da luz que me torna um outro, muito mais diferente do que sou, depois que o li. Obrigado, Nelson.