Amigos do Fingidor

quinta-feira, 31 de março de 2011

Medicina na pré-história

João Bosco Botelho


Mesmo com escassos registros, as análises arqueológicas estabelecem algumas relações concretas da ação médica na pré-história. A ação intencional do homem sobre o homem com intenção de mudar o curso da morte data de 25.000 anos, com o achado do osso do braço de um neanderthal submetido à amputação. A cirurgia foi bem sucedida e o homem viveu muito tempo após a intervenção cirúrgica.

Sem dúvida, as doenças existiam muito antes do aparecimento do homem, porém a ques-tão é tentar desvendar como as sociedades primitivas se relacionavam com estas doenças, na sua luta pela sobrevivência.

O estudo dos fósseis mostra que o homem pré-histórico estava sujeito às doenças de modo semelhante as que os homens modernos continuam enfrentando nos dias atuais. A fratura traumática foi uma das patologias mais frequentes. Em algumas delas foram confirmados sinais de infecção no osso traumatizado, a osteomielite, em tudo igual àquela encontrada nos hospitais de hoje. Também foi possível estabelecer a existência de doenças não traumáticas, como a denominada gota das cavernas, uma espécie de reumatismo do homem pré-histórico.

A tuberculose óssea na coluna vertebral foi documentada no esqueleto de homem do perí-odo Neolítico, em torno de 7.000 anos a.C. , constituindo, sem dúvida, o primeiro exemplar médi-co de tuberculose óssea.

Perdura a questão da existência do ritual-mítico ligado a busca das causas e das soluções das doenças. Na gruta de Trois Fréres, na França, há uma pintura de um personagem em movimento de dança, datando de mais de 10.000 anos a.C., travestido de cervo, em atitude que sugere espécie de ritual médico-mítico, semelhante ao ritual da dança dos bisões, praticado pelos índios do norte dos Estados Unidos, durante cerimônia simbolizando o poder animal na cura das doenças.

Durante o Neolitico, entre 10.000 a 7.000 anos a.C., o homem passou a incorporar méto-dos empíricos no tratamento das doenças. Estes métodos algumas vezes, foram extremamente agressivos, como a trepanação do crânio, isto é a abertura da cavidade craniana com o auxilio de instrumentos suficientemente fortes para cortar os ossos que protegem o cérebro. É facilmente comprovado que alguns destes homens pré-históricos que sofreram a craniotomia sobreviveram muito tempo à cirurgia, o suficiente para favorecer novo crescimento do osso cortado.

Ilustração: pintura rupestre na gruta de Trois Fréres, França.