Zemaria Pinto
Nete
Era magra, pequena,
frágil, quase efêmera. Apenas os lábios e os seios de Nete pareciam
desproporcionados, mais volumosos que o conjunto. Conheci-a no clube que
frequentava aos sábados, com as crianças. Ela estava no segundo ano do
secundário. A primeira vez que fomos a um hotel foi inesquecível – pelo que não
aconteceu. Com o tempo, a menina foi aprendendo a arte e eu me adaptei de tal modo
àquela branda arquitetura, que, no contato com outras mulheres de formas
exuberantes, sentia falta de ângulos e reentrâncias que só encontrava em Nete.
O passar do tempo lhe foi benéfico, tornando-a harmoniosa, sem perder o encanto
da delicadeza. Nete casou, teve uma pequena, mas apesar de esparsos, nossos
encontros continuavam divertidos e cheios de tesão. Obrigações maritais,
entretanto, arrastaram-na ao Chile. Ainda recebi 3 ou 4 cartas saudosas, com
endereço da posta-restante, até que o silêncio dos anos deixou-me apenas a
lembrança de Nete. Tênue, suave, infinda.