Pedro Lucas Lindoso
Eu era um menino de oito anos de idade, morava
na Rua Henrique Martins e estudava no Grupo Escolar Saldanha Marinho. Há exatos
cinquenta anos, em 1965, a nossa família foi passar as férias no Rio de
Janeiro.
Voamos pelas asas do Caravelle, da Pan Air. Meu
pai, José Lindoso, era advogado da extinta companhia aérea, que iria à falência
naquele ano. A cidade maravilhosa do Rio de Janeiro celebrava seus 400
anos.
Os festejos do quarto centenário se estenderam
por todo aquele verão carioca e jamais esquecerei aquelas férias. A viagem de
Caravelle fez escala em Brasília, cidade onde iriamos morar no ano seguinte,
com a eleição de José Lindoso para a Câmara dos Deputados.
A grande família Lindoso embarcou em Ponta
Pelada no voo PAB 483 que saia de Manaus às 12h40min, chegando em Brasília às
16h40min. Às 17h10min partia para o Rio e chegava às 18h40min no Santos Dumont.
Quem me deu esses dados foi tia Idalina, que hospedou parte da família em seu
apartamento, no Bairro de Fátima.
Inclusive a tartaruga. Sim, junto com os seus
seis filhos, o casal José e Amine Lindoso trazia uma tartaruga viva, embalada
adequadamente num caixote de madeira. A tartaruga foi tratada pela nossa
querida Darinha, que preparou um delicioso sarapatel. Mas antes de ser abatida,
os vizinhos faziam fila para ver a tal tartaruga, vinda do Amazonas e hospedada
no banheiro de serviço de tia Idalina. Naquele tempo não havia IBAMA e Ecologia
era uma ciência desconhecida dos comuns mortais.
A outra parte da família ficou hospedada em
Ipanema. Lembro-me bem do cine Pax, na Rua Visconde de Pirajá, da missa
dominical de hora em hora, na Igreja Nossa Senhora da Paz, superlotada de
fiéis. De uma praia sem poluição, com tatuí e conchinhas do mar.
E o carnaval daquele ano, segundo tia Idalina,
“permanece até hoje na memória do carioca o grande carnaval de 1965, em que
todas as escolas desenvolveram temática sobre o aniversariante quatrocentão”.
Outra coisa inesquecível foi o símbolo do
quarto centenário. A junção de quatro números 4, um de cada centenário. Uma
ideia simples e marcante. O símbolo entrou na cabeça das pessoas e fez sucesso.
Houve uma chuva de papeizinhos prateados com o símbolo impresso, jogados por um
helicóptero em toda a orla da Zona Sul do Rio. Eu mesmo guardei uns daqueles,
que se perderam.
E havia televisão na cidade maravilhosa e não
tínhamos, ainda, em Manaus. Naquela época os amazonenses não iam para Miami nem
para São Paulo ou Fortaleza. Todos iam para o Rio. A cidade celebra 450 anos
neste verão. Parabéns cidade maravilhosa! Parece que foi ontem que você se
tornou quatrocentona.