Marco Adolfs
– Saí de casa com dezessete anos – disse Sandy.
– Qual o motivo? – perguntei.
– Meu pai me batia muito – respondeu.
O pai a agredia sem piedade, quando ela chegava da rua. Chegou a ser levada para um pronto-socorro com o rosto inchado de hematomas. Um tapa do pai a derrubou no chão e os irmãos completaram a sova.
– Vagabunda! Viciada!
Ela estava drogada, naquele dia. Conflitos familiares por causa da perda da mãe e da bebedeira do pai ocasionaram uma parte de seu drama. Então, numa bela manhã, fugiu de casa.
Havia arrumado algumas roupas em uma mochila velha e pegou um ônibus. Foi para uma outra cidade. Bem distante. Bem longe. Perambulou pelas ruas e resolveu que deveria se prostituir para ganhar dinheiro e poder sobreviver. Mas, determinado dia sentiu-se um trapo.
Então, naquela manhã, resolveu que se mataria, jogando-se do alto de um prédio abandonado. Cheirou cola até não poder mais; levantou-se e se aproximou do terraço.
Quando caiu, seus cabelos loiros empaparam-se de sangue. Ninguém sabia quem era aquela menina. Só eu, o jornalista. “Mulher atira-se de prédio”. Vinte anos de idade. Notícia de jornal, em poucas linhas.