Jorge Tufic
Duas epígrafes, imagino agora, deveriam ter sido impressas nas páginas de entrada desta tríplice coroa de sonetos , Tiara do verde amor, de um dos melhores poetas brasileiros de todos os tempos, Max Carphentier, autor, inclusive, de um livro de contos e de um romance premiado pela SUFRAMA (Superintendências da Zona Franca de Manaus). Uma delas eu tirei da Cartilha da Amazônia (Livro do aluno, SEDUC/INPA, 1979) e traz a seguinte frase ou período simples: “A Amazônia vai até onde acaba a vegetação amazônica”. A outra é minha, e tem forma de trova:
Floresta é tudo o que encerra
fauna, flora, sol e ermo:
entre o verde e a moto-serra
não pode haver meio-termo.
Não se trata aqui, porém, de um livro técnico, embora se trate de livro que tenha, aliado ao poético e à difícil arte da espécie coroa, o interesse de infundir amor pela nossa Amazônia, última grandeza natural que testemunha o homem e o nascimento da poesia.
Como no tempo dos árcades, o autor festeja o advento da Amada, repleta de bons prenúncios. O verbo chega a marcar-lhe a presença, nem muito sutil nem muito ruidosa, pelo fato de já tê-la em si mesmo e no todo que ainda vai ser narrado e percorrido. Ela chega assim veículo e companheiro, musa e pão, tapete mágico e flor aquática. E ambos partem, depois desse introito, a tecer, nos ares perfumados e bosques atentos, sonetos que tecem sonetos, sonetos que tecem de verde o amor através do qual, o poeta e sua Amada, nutrindo-se da seiva agonizante que instaura a vida e protege os seres do planeta, tentam salvar a Amazônia do maior e mais longo enterro ecológico da História. A tiara, símbolo do poder místico, eleva-se do canto em ramos luminosos que se agitam de esperança.
Transferida para os mísseis de alcance continental, a intensidade poética em jogo através da terra e dos mitos da coroa intermediária, redobra em potência. A verde tiara do Amor, contudo, alando-se cada vez mais em descobertas e leves registros metafóricos, sem a cor alarmante das caixas de alta tensão, pretende colocar o bom senso, em vez do pânico; a vigília, em vez do ódio; a árvore, em vez do poste; a vida, em vez da morte; o verde em vez das queimadas.
Em verdade, poeta, só o Deus venerado pelos brancos, ou os deuses rubros da forja de Vulcano, podem salvar esse conjunto de matas e águas em absurdo que se juntaram no ecossistema da Amazônia, vista e sonhada por gregos e troianos, ianques e russos, pretos e amarelos, mas onde apenas alguns reconhecem a impossibilidade de um meio-termo que seja, entre o desenvolvimento colocado pelos homens de empresa e a necessidade de sua preservação, como parte que é de tantos outros sistemas, ainda hoje desconhecidos.