Pedro Lucas Lindoso
A Baía da Guanabara
continua poluída. As vésperas das Olimpíadas do Rio de Janeiro, o velejador
Lars Grael, em triste depoimento, diz: “ninguém gosta de velejar na sujeira”.
A família real veio para
o Brasil em 1808. Além de dona Maria, a louca, veio com Dom João VI e dona
Carlota Joaquina e o filho Pedro, um garoto de 10 anos de idade, que viria a
ser nosso primeiro imperador.
Ao entrar na Baía da
Guanabara todos ficaram maravilhados com a beleza do Pão de Açúcar e do
Corcovado. Contudo, a família imperial encantou-se com a quantidade de
golfinhos que pulavam alegremente entre as diversas naus e fragatas que
trouxeram aqueles que mudariam a nossa História para sempre.
Minha amiga Ana Lúcia,
que é bióloga, certa vez me disse que os golfinhos e os botos são a mesma
coisa. Não há nenhuma diferença. É só uma questão de nomenclatura regional. São
todos cetáceos.
Eles, os botos, digo, os
golfinhos, constam do escudo oficial da cidade do Rio de Janeiro. Mas não mais
existem golfinhos na Baía da Guanabara. Estão ausentes, dizem, há mais de um
século.
Quando eu era menino aqui
em Manaus, passeava-se pela Baía do Rio Negro até o Encontro das Águas. Havia
muitos botos, nossos golfinhos, habitando o local. Outro dia fui por lá e não
vi nenhum. Lembro-me que gritávamos aqui!, quando um pulava. Ali!, quando outro
pulava. Apelidei os botos de Aqui e Ali, num livrinho de estória de minha
autoria.
Estou preocupado com os
nossos botos. A carne do boto está sendo utilizada como isca para pescar o
bagre piracatinga, um peixe exportado principalmente para a Colômbia e vendido
enganosamente como capaz ou capacete.
Mas a poluição da nossa
Baía do Rio Negro também preocupa. E muito. Espero que não seja mesmo
construído o tal porto em frente ao Encontro das Águas.
O Hino do Amazonas, na
bela letra do poeta Jorge Tufic, conclama:
- “aos que lutam, mais
vida e riqueza.”
Digo eu: aos botos, mais
vida! A nossa riqueza está na nossa fauna e na nossa floresta.